Page 94 - 3M A ALMA ENCANTADORA DAS RUAS
P. 94

a
               – Em cinco noites, visitando-os depressa, informou o agente, V. S  não dá cabo deles. É por aqui,
               pela Gamboa, nas ruas centrais, nos bairros pobres. Só na Cidade Nova, que quantidade! Isso
               não contando as casas particulares, em que moram vinte e mais pessoas, e não querendo falar
               das hospedarias só de gatunos, os "zungas".


               – "Zungas"? fez o adido de legação, curioso.


                                                                                            a
               – As hospedarias baratas têm esse nome...Dorme-se até por cem réis. Saiba V. S  que a vídinha
               dava para uma história.


               Mas debaixo de uma das foices de luz, o delegado parara. Estacamos também.


               O soldado bateu à porta com a mão espalmada. Houve um longo silêncio. O soldado tornou a
               bater. De dentro então uma voz sonolenta indagou:


               – Quem é?


               – Abra! É a polícia! Abra!


               O silêncio continuou. Nervoso, o delegado atirou a bengala à porta.


               – Abra já! É o dr. delegado! Abra já!


               A porta abriu-se. Barafustamos na meia-luz de um corredor com areia no soalho. O homem que
               viera abrir, corpulento, de camisa de meia, esfregou os olhos, deu força ao bico de gás, encostou-
               se à mesa forrada de jornais, onde se alinhavam castiçais.


               – É o proprietário? indagou o delegado.


               – Saiba V. S  que não. Sou o encarregado.
                           a


               – Muita gente?


               – Não há mais lugares.


               – Deixe ver o livro.


               O livro é uma formalidade cômica. A autoridade virou-lhe as páginas, rápido, enquanto os secretas
               descansavam as bengalas. O mau cheiro era intenso.
   89   90   91   92   93   94   95   96   97   98   99