Page 44 - 3M A ALMA ENCANTADORA DAS RUAS
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– Por que "restauração da vitória"? indagamos do proprietário, o Sr. Colaço.
– Eu explico, diz ele. Há cerca de 30 anos, os espanhóis invadiram a ilha Terceira. Como eram
poucos os soldados para repelirem o castelhano, os lavradores soltaram todos os touros bravos
na praia da Vitória e dessa maneira os espanhóis fugiram. Os paraguaios resistiram também tanto
tempo por causa dos touros importados da Argentina.
– Tudo tem uma explicação neste mundo!
– All right!
Alll right, sim! Os títulos das casas, por mais absurdos, como Filhos do Céu, por exemplo, têm
uma explicação que convence. Há os nefelibatas, os patrióticos 19 de Janeiro, d. Carlos; o
diplomático União Ibérica, os que engrossam uma certa classe, e até um, na Rua Frei Caneca,
pertencente ao riquíssimo Pinho, cujo título é uma profunda lição filosófica. O hotel intitula-se
Comércio e Arte...
Os pintores desse gênero criaram uma especialidade: são os moralistas da decadência e usam
também tabuletas. Um mesmo, talvez por ter sofrido muito de cara alegre, pôs na Rua de S. Pedro
este anúncio: Fulano de Tal, Pintor de Fingimentos. E realmente eles aturam tanto dos
proprietários! Um deles, rapazito inteligente, era encarregado de fazer a fachada da Casa do Pinto.
Fez as letras e pintou um pintainho. O proprietário enfureceu:
– Que tolice é esta?
– Um pinto.
– E que tenho eu com isso?
– O senhor não é Pinto?
– O meu nome é Pinto, mas eu sou galo, muito galo.
Pinte-me aí um galo às direitas!
E outro, encarregado de fazer as letras de uma casa de móveis, vendem-se móveis quando o
negociante veio a ele:
– Você está maluco ou a mangar comigo!
– Por quê?