Page 18 - 3M A ALMA ENCANTADORA DAS RUAS
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malandros de gravata e roupa alheia, cuja vida passa em parte nos botequins e à porta das
charutarias.
– E é rendoso?
– Rendoso, propriamente, não; mas os selistas contam com o natural sentimento de todos os
seres que, em vez de romper, preferem retirar o selo do charuto e rasgar a parte selada das
carteirinhas sem estragar o selo.
– Mas os anéis dos charutos?
– Oh! isso então é de primeiríssima. Os selistas têm lugar certo para vender os rótulos dos
charutos Bismarck – em Niterói, na Travessa do Senado. Há casas que passam caixas e caixas
de charutos que nunca foram dessa marca. A mais nova, porém, dessas profissões, que saltam
dos ralos, dos buracos, do cisco da grande cidade, é a dos ratoeiros, o agente de ratos, o
entreposto entre as ratoeiras das estalagens e a Diretoria de Saúde. Ratoeiro não é um cavador
– é um negociante. Passeia pela Gamboa, pelas estalagens da Cidade Nova, pelos cortiços e
bibocas da parte velha da urbs, vai até ao subúrbio, tocando um cornetinha com a lata na mão.
Quando está muito cansado, senta-se na calçada e espera tranqüilamente a freguesia, soprando
de espaço a espaço no cornetim.
Não espera muito. Das rótulas há quem os chame; à porta das estalagens afluem mulheres e
crianças.
– Ó ratoeiro, aqui tem dez ratos!
– Quanto quer?
– Meia pataca.
– Até logo!
– Mas, ô diabo, olhe que você recebe mais do que isso por um só lá na Higiene.
– E o meu trabalho?
– Uma figa! Eu cá não vou na história de micróbio no pêlo do rato.
– Nem eu. Dou dez tostões por tudo. Serve?
– Heim?