Page 100 - 3M A ALMA ENCANTADORA DAS RUAS
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pragas,  que  nessas  bocas  repuxadas  causam  uma  dolorosa  impressão  de  dor  e  de
               confrangimento.


               Logo de manhã, quando nas torres os sinos tangem, a tropa sobe para a igreja.


               – Bom dia, d. Guilhermina.


               – Bom dia, d. Antônia. Como vai dos seus incômodos?


               – O reumatismo não me deixa. É desta laje fria.


               – Que se há de fazer? É a vontade de Deus. Então, hoje, missas boas?


               – Li no jornal: às nove e meia a do general... Mas, não contemos. Os ricaços estão cada vez mais
               sovinas.


               Aconchegam-se, tomam posição e, pouco depois, os níqueis começam a cair e as vozes de dentro
               dos xales a sussurrar:


               – Deus vos acompanhe! Deus lhe pague! Deus lhe dê um bom fim!


               Há até certos lugares rendosos que são vendidos como as cadeiras de engraxate e os fauteuils
               de teatro.


               As mendigas alugadas são em geral raparigas com disposições lamurientas, velhas cabulosas
               aproveitadas  pelos  agentes  da falsa mendicidade,  com  ordenado  fixo  e porcentagem sobre a
               receita. Encontrei duas moças – uma de Minas, outra da Bahia – Albertina e Josefa, e um bando
               de velhas nesse emprego. As raparigas são uma espécie de pupilas da sra. Genoveva que mora
               na Gamboa. Josefa, picada de bexiga, só espera o meio de se ver fora do jugo; Albertina, tísica,
               tossindo e escarrando, apresenta um atestado que a dá por mãe de três filhos.


               O atestado é, de resto, um dos meios de embaçamento público.


               Certo caften, morador nos subúrbios, chamado Alfredo, tem por sua conta um par de raparigas –
               a Jovita italiana, e a parda Maria. A Jovita foi, a princípio, criada; fugiu com um rapaz, abandonou-
               o e caiu na exploração da mendicidade com  o sr. Alfredo. Maria é a história de Jovita, um pouco
               mais escurecida. Ambas têm atestado em bela letra, dizendo as graças que lhes vão por casa e o
               cadáver à espera do caixão.


               Como Jovita é bonita, os subscritores são tão numerosos que pode fazer, sem cuidado, alguns
               enterramentos por semana. As 7 da noite, tomam  as duas  o trem na Central e quando se sentem
               seguidas,  saltam  em  estações  diferentes,  metem-se  nos  bondes  –  tudo  isso  muito  alegres  e
               defendendo o sr. Alfredo com grande dedicação.
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