Page 61 - 2M A INTRUSA
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– A carta... diz um cavalheiro que a interessa... cuidei que se tratasse de seu
esposo. Será seu genro...
– Pode saber-se quais são as suas intenções?
– Ser amada por ele e explorá-lo.
– Eu já desconfiava!...
– Não se apoquente... ela será desmascarada a tempo... Não é livre... ama
um rapaz pobre... com quem se encontra furtivamente... A senhora receberá uma
carta...
– Que mais?
– O mais não digo; a senhora poderia ficar impressionada, sem vantagem...
Seja prudente... queime a carta que receber... e esteja alerta... não convém intervir
já... espere um pretexto, que não se fará esperar muito... a sua inimiga tem
recursos...
– Se tem!
– E já conseguiu muita coisa... Recomende a seu genro cuidado, sobretudo
com uns papéis lacrados que ele tem encerrados em um cofre!
– Tenciona roubá-lo?!
– Por hoje não lhe posso dizer mais nada – concluiu D. Alexandrina, cerrando
os olhos.
A baronesa saiu tonta. Era a primeira vez na sua vida que se abalançava para
consultar uma adivinha. Envergonhava-se do seu ato; o marido censurá-la-ia... fora
ali buscar um pouco do sossego e saía em maior confusão – aterrada!
Fizera mal até então em não acreditar nas cartomantes: como pudera aquela
adivinhar a existência da inimiga e as suas idéias perigosas? Mas, por que não lhe
dera a ponta da meada, por onde ela pudesse desfazer toda a teia? Tinha que
esperar uma carta e só depois dela lida e desfeita em cinzas teria de entrar em cena!
Entretanto, a outra iria tomando inteira posse do coração de Argemiro, que ela
queria só cheio do amor e da saudade da filha!
Era por causa daquele coração que a sua doce Maria lhe aparecera banhada
em lágrimas! Havia de lutar até restituí-lo à morta!
O carro entrava agora na larga rua das mangueiras da chácara, quando a
baronesa viu o Feliciano a pé, sobraçando um grande embrulho. Ela fez parar o
carro e chamou o negro.
– Feliciano! Bote esse embrulho aqui e ajude-me a descer. Quero fazer um
pouco de exercício... E, voltando-se para o cocheiro: – Guarde isso no carro até a
minha chegada.
O carro partiu; a baronesa disse:
– Feliciano, quero saber toda a verdade: que se passa em casa de minha
filha?
O rapaz fingiu-se mais espantado do que estava e balbuciou:
– Nada demais... não, senhora.
– Não é verdade. Estou informada de que D. Alice conversa com o senhor
doutor... nega, se és capaz.
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