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                  perpetuidade do amor e na perpetuidade do voto. Que era o casamento, então? um
                  contrato quebradiço, sujeito a ser violado ao primeiro amuo?
                         As idéias embaralhavam-se-lhe na cabeça. Ainda na véspera discutira-se à
                  mesa, em sua casa, a lei do divórcio. E o próprio pai afirmara que ela jamais seria
                  decretada no Brasil... Interrogou a esse respeito a mãe, que respondeu quase em
                  segredo:


                         – Eles estão olhando para nós... disfarça... não convém falar nisso agora... A
                  Marianinha já me conheceu... não fosse eu a mulher do ministro... verás como me
                  abraça!


                         Assim aconteceu.
                         Pelos fins do almoço, a Marianinha atirou o guardanapo para a mesa e,
                  arrastando o marido, correu a falar à Pedrosa.

                         – Petronilha! – exclamou ela num arranco enternecido.


                         A Pedrosa levantou-se com um sorriso cerimonioso e um ar de quem não
                  atinava com o nome da outra...

                         – Não se lembra da Marianinha Serpa! das Irmãs? O diabrete azul, como me
                  chamavam?
                         – Ah! sim!... o diabrete azul... lembro-me! Desculpe-me... mas estava tão
                  longe!...
                         – Mesmo depois disso encontramo-nos várias vezes em casa do...


                         Mas a Marianinha interrompeu-se para apresentar o marido.
                         Pedrosa apresentou, por sua vez, a filha, e os outros voltaram para o seu
                  lugar; faltava-lhes o café.

                         – A vida é uma comédia... – comentou a ministra. – Vá a gente fiar-se... Eu
                  não te disse? Viu que tínhamos acabado e não quis deixar-nos sair sem se
                  apresentar. E agora teremos de ir cumprimentá-los. Mas vão esperando que lhes
                  ofereça a casa... não por mim, que afinal não desgosto dela... A Marianinha é
                  pianista, entretém; mas por causa da sociedade!


                         Reuniram-se depois, passeando ao longo do aqueduto; era preciso fazer
                  horas para descer. Marianinha tinha vivacidade, falava muito. O marido colhia
                  avencas que Sinhá deixava cair dos dedos distraídos. À hora da partida, o casal,
                  obsequioso, ofereceu a Sinhá uma caixa de passas de pêssego do Rio Grande,
                  lembrança acabadinha de chegar da sua terra.
                         Logo que o trem se pôs em movimento, a Pedrosa suspirou de alívio. Que
                  dia!
                         E, abrindo a caixa de pêssegos, contemplou-os com aprovação e disse:

                         – A única coisa boa do dia! Vê como estão bem arranjadinhos e como são
                  bonitos.


                         O fabricante tem arte... estes lacinhos de fita estão bem dados...
                         E ela, antes de fechar a caixa, cheirou os pêssegos.

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