Page 58 - 2M A INTRUSA
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                         – Esta gente agora, seja onde for que nos encontre, há de atravessar diante
                  de nós... Entendem lá consigo que já nos obsequiaram. É o que se chama vir buscar
                  lã...
                         – Pare no 274 – disse a Pedrosa ao João, ao entrar no carro.
                         – Na casa do Dr. Argemiro? Para quê, mamãe? Eu não entro!
                         – É só por curiosidade... a esta hora ele não está em casa... deixo-lhe um
                  cartão e a caixa dos pêssegos... dir-lhe-ei depois que ia passar-lhe também um
                  bilhete de caridade...
                         – Mamãe, os pêssegos são meus!
                         – Não sejas gulosa. Aquilo fez-se só para presentes. E, afinal, para quem
                  quero eu o Argemiro? Les petits cadeaux entretiennent l’amitié, dizem os franceses.
                  Ele irá agradecer-mos a casa e tu o receberás...
                         – Mamãe!
                         – A mamãe só quer a tua felicidade, descansa!

                         Quando o carro parou, a Pedrosa desceu e ordenou à filha que a
                  acompanhasse. Sinhá hesitou antes de obedecer.
                         O vestíbulo da casa de Argemiro, resguardado da rua por um largo pavimento
                  de vidros lavrados, tinha uma porta lateral abrindo sobre o jardim e outra ao fundo,
                  dando para uma saleta de espera. A Pedrosa dirigiu-se com a filha para a porta do
                  fundo e ia tocar a campainha, quando ouviu uma voz de mulher dando uma ordem.
                  Depois, a porta abriu-se e a figura de Alice apareceu entre os umbrais.

                         – Vejo que me enganei... não mora aqui o Dr. Argemiro?!


                         Alice acenou que sim, com a cabeça e um leve sorriso.

                         – A família... a filha... está?
                         – A filha não mora aqui...

                         A Pedrosa, percebendo que não falava a uma criada, observou Alice com
                  estranheza, da cabeça aos pés. Sinhá murmurou:


                         – Vamos, mamãe...

                         Adivinhando a confusão das senhoras, Alice, despeitada, voltou-se para o
                  Feliciano, que se aproximava, e disse:

                         – Feliciano, receba as ordens destas senhoras!


                         Depois, cumprimentando-as, atravessou o vestíbulo e saiu pela porta do
                  jardim.
                         A Pedrosa acompanhou-a com a vista.
                         Feliciano esperava empertigado, com um arzinho malicioso na fisionomia
                  esperta. A Pedrosa escreveu a lápis num bilhete de visita:
                         "Dr. Argemiro. Passando pela sua porta, quis deixar estes pêssegos para a
                  sua Glória. Tinham-me informado que ela estava aqui. Cumprimentos".
                         Feliciano recebeu a caixa e o cartão e apressou-se em ir adiante abrir o
                  guarda-vento e a portinhola do coupé.
                         No carro, a Pedrosa explodiu:

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