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                         – Que te cales e que mandes a nossa Glória todos os sábados visitar o pai.
                  Ele assim o quer e manda, faça-se a sua vontade.
                         – Isso nunca! Seria uma desmoralização! O meu dever é velar por minha
                  neta!
                         – Argemiro é um homem sério e muito amigo da filha.
                         – E nós?
                         – Nós só somos responsáveis por ela para com o pai.
                         – E perante Deus!
                         – Deus... A propósito de Deus: pedi na carta ao Argemiro que trouxesse no
                  domingo o Assunção.
                         – Padre Assunção... que idéia! Se lhe falássemos?
                         – A que respeito?
                         – A respeito das jóias... Ele aconselhará o Argemiro e indagará de tudo... Se
                  não estiver também fanatizado!

                         O barão riu-se.


                         – Faze o que quiseres; eu lavo daí as minhas mãos.

                         A baronesa, resolvida a agir, sentiu-se subitamente reanimada. Ela iria até ao
                  inferno pela sua idéia. Defenderia, custasse o que custasse, a sua morta!
                         Nessa mesma tarde telegrafou ao padre, chamando-o.



                  Capítulo VII

                         O domingo amanhecera de chuva; um bom dia para preguiça. Argemiro
                  escreveu aos velhos desculpando-se por não ir vê-los e deliberou consagrar essa
                  manhã aos papéis em desordem. Fora uma providência Glória não ter vindo.
                         Com tão feio dia...
                         A verdade, que ele sentia, que o penetrava por todos os poros, era que a sua
                  casa nunca lhe soubera tão bem. Havia um conforto novo, um aroma de malva ou de
                  pomar florido, melhor luz, melhor ar, por aqueles compartimentos que o Feliciano,
                  quando sozinho, enchia do cheiro dos cigarros e dos charutos. Sempre era um
                  fumante!
                         Agora não; percebia-se que o ar daqueles quartos tinha sido renovado e o
                  ambiente purificado pelas roseiras abundantes do jardim.
                         Argemiro sentiu nessa manhã, pela primeira vez, uma certa curiosidade de
                  ver Alice; mas não procurou pretexto para isso, certo de que, estando muitas horas
                  em casa, forçosamente esbarraria com ela por acaso. Deixava pois, e de bom grado,
                  a esse senhor a responsabilidade do encontro. Daí, a idéia moça trazia-lhe à
                  lembrança umas pobres botinas cambadas...
                         O seu gabinete reluzia de asseio, cheirava bem, não precisava de mais nada.
                  Começou tranqüilamente a leitura dos jornais.
                         Estava em meio de um artigo, quando o padre Assunção bateu à porta.

                         – Então! Preguiçoso!
                         – Entra. Como vês! Tens razão, preguiçoso! E nunca tanto como agora...
                  absolve-me e senta-te.
                         – Cá estou... bravo, como esta cadeira está bonita!...
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