Page 43 - 2M A INTRUSA
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– Que te cales e que mandes a nossa Glória todos os sábados visitar o pai.
Ele assim o quer e manda, faça-se a sua vontade.
– Isso nunca! Seria uma desmoralização! O meu dever é velar por minha
neta!
– Argemiro é um homem sério e muito amigo da filha.
– E nós?
– Nós só somos responsáveis por ela para com o pai.
– E perante Deus!
– Deus... A propósito de Deus: pedi na carta ao Argemiro que trouxesse no
domingo o Assunção.
– Padre Assunção... que idéia! Se lhe falássemos?
– A que respeito?
– A respeito das jóias... Ele aconselhará o Argemiro e indagará de tudo... Se
não estiver também fanatizado!
O barão riu-se.
– Faze o que quiseres; eu lavo daí as minhas mãos.
A baronesa, resolvida a agir, sentiu-se subitamente reanimada. Ela iria até ao
inferno pela sua idéia. Defenderia, custasse o que custasse, a sua morta!
Nessa mesma tarde telegrafou ao padre, chamando-o.
Capítulo VII
O domingo amanhecera de chuva; um bom dia para preguiça. Argemiro
escreveu aos velhos desculpando-se por não ir vê-los e deliberou consagrar essa
manhã aos papéis em desordem. Fora uma providência Glória não ter vindo.
Com tão feio dia...
A verdade, que ele sentia, que o penetrava por todos os poros, era que a sua
casa nunca lhe soubera tão bem. Havia um conforto novo, um aroma de malva ou de
pomar florido, melhor luz, melhor ar, por aqueles compartimentos que o Feliciano,
quando sozinho, enchia do cheiro dos cigarros e dos charutos. Sempre era um
fumante!
Agora não; percebia-se que o ar daqueles quartos tinha sido renovado e o
ambiente purificado pelas roseiras abundantes do jardim.
Argemiro sentiu nessa manhã, pela primeira vez, uma certa curiosidade de
ver Alice; mas não procurou pretexto para isso, certo de que, estando muitas horas
em casa, forçosamente esbarraria com ela por acaso. Deixava pois, e de bom grado,
a esse senhor a responsabilidade do encontro. Daí, a idéia moça trazia-lhe à
lembrança umas pobres botinas cambadas...
O seu gabinete reluzia de asseio, cheirava bem, não precisava de mais nada.
Começou tranqüilamente a leitura dos jornais.
Estava em meio de um artigo, quando o padre Assunção bateu à porta.
– Então! Preguiçoso!
– Entra. Como vês! Tens razão, preguiçoso! E nunca tanto como agora...
absolve-me e senta-te.
– Cá estou... bravo, como esta cadeira está bonita!...
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