Page 39 - 2M A INTRUSA
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                         – E... e o quê?!
                         – A tal... a tal mulher, como a achaste?
                         – D. Alice? É tão boa! sabe? ontem ela me ensinou a fazer crochê e deu-me
                  depois a agulha e o novelo de lã!
                         – Ora, que prenda, crochê! Eu não aprecio isso. Ela é bonita ou feia?
                         – É bonita!
                         – Ah...

                         Maria percebia bem que a avó não estava contente; mas continuava a açular
                  o seu ciúme, com maldade.


                         – Tomaste banho hoje?...
                         – Tomei. Foi D. Alice quem me penteou. Sábado voltarei para lá, sim, vovó?
                         – Já?! mal chegaste já pensas em voltar!
                         – D. Alice pediu...
                         – Ora, D. Alice!


                         A baronesa retinha a neta a custo entre os braços. Maria tinha pressa de ir
                  ver os coelhos e verificar se lhe tinham apanhado uma bela manga rosa que ela
                  trazia de olho havia dias...


                         – Sossega, menina! Olha para mim!
                         – Estou com pressa...
                         – Deixa-me tirar a faixa... como este laço vem mal dado... não hás de ir com
                  este vestido para o quintal! Que penteado! Logo se vê que a tal mulher não tem jeito
                  para tratar de crianças!
                         – Como não tem?! É tão delicada...
                         – Dize-me cá: em que quarto está dormindo?
                         – No quarto azul...
                         – Da sala de jantar?!
                         – Não. Em cima, aquele do terracinho.
                         – O gabinete de trabalho de Maria! Será possível? Para uma empregada, um
                  quarto tão bonito... E tu, onde dormiste?
                         – Ao pé dela.
                         – Na mesma cama?!
                         – Não; mas no mesmo quarto...

                         A baronesa suspirou. Ela não pudera conciliar o sono, em frente à cama vazia
                  da neta! E a criança ingrata, ao lado da inimiga, nem pensara nela!
                         O trabalho da baronesa seria agora afastar Maria quanto possível da idéia de
                  voltar à cidade. Disputá-la-ia à outra, a ferro e fogo. A verdade é que Maria
                  exagerava a sua simpatia por Alice, por perceber o desgosto da avó, assim como se
                  comprazia em torturar Alice na ausência da baronesa...
                         No meio dessa semana o Feliciano foi, a mandado de Argemiro, levar uma
                  carta à chácara dos velhos.
                         Glória corria pela chácara; o barão lia sob o alpendre e a baronesa, a seu
                  lado, cerzia meias, sossegadamente. O negro, todo emproado e bem vestido,
                  entregou a carta à velha, que foi a mais pronta em estender a mão.

                         – Então, Feliciano, como vai tudo por lá?

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