Page 41 - 2M A INTRUSA
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                         – A senhora não se lembra de um alfinete que Iaiá sua filha gostava de usar e
                  que representava uma andorinha de pedras?


                         A velha corou até a raiz dos cabelos e abriu a boca, como se lhe faltasse o ar.

                         – Não diga nada ao patrão, pelo amor de Deus! Eu não afirmo... Pode ser
                  outro alfinete... somente...
                         – Cala-te!... É impossível que as coisas chegassem até esse ponto!... Oh!
                  minha filha!
                         – A senhora perdoe... mas acho do meu dever...
                         – Eu falarei a Argemiro!
                         – Pelo amor de Deus! A senhora me perdoe! Deixe eu adquirir a certeza e
                  depois lhe direi toda a verdade... juro por quem está no céu! Lá vem seu barão... não
                  diga nada a ele também!
                         – Por que não? Estás doido! Se não mentes, não deves temer coisa alguma!
                         – É porque assim serei despedido e não poderei velar de perto pelo interesse
                  de D. Glória...


                         A baronesa já não ouviu as razões do preto e gritou para o marido, num
                  desabafo:


                         – Sabes o que me disse o Feliciano?! Que a tal D. Alice se empavona com as
                  jóias de nossa filha, jóias que só podem ser usadas por Maria! Vê a que ponto
                  chegou aquilo! E ainda querem levar a minha Glória para lá!... Nunca mais!


                         O barão voltou-se furioso para o negro, que repetia aflito as suas palavras: –
                  Não afirmo... parece-me... não digam nada, pelo amor de Deus!

                         – Vá-se embora! E não me torne cá, seu patife! – gritou-lhe o velho, fora de si.
                  – Não queremos saber de nada, ouviu? de nada! Suma-se!

                         A baronesa interveio a favor do rapaz, aconselhando-o a calar-se;
                  entregando-lhe a resposta escrita pelo marido, acrescentou:

                         – Glória não iria, nem nesse domingo nem em nenhum outro! Passassem por
                  lá sem ela! Era o que faltava!

                         Foi exatamente nesse instante que a menina, percebendo o criado do pai,
                  correu para ele com um ramo de rosas na mão.


                         – Você já vai, Feliciano?
                         – Já, sim senhora...
                         – Bem; então leve estas rosas a D. Alice!

                         A baronesa fez um gesto para impedir tal incumbência, mas o barão travou-
                  lhe o braço:


                         – Deixa-a lá.
                         – Minha pobre filha – exclamou a baronesa olhando para o céu; – Não sei
                  como hei de defender-te sozinha!

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