Page 37 - 2M A INTRUSA
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                         E, a propósito, a Pedrosa perguntou ao Argemiro quando teria de assistir ao
                  seu...


                         – Eu já me casei, minha senhora...
                         – Sabemos; mas ser viúvo é como ser solteiro...
                         – Estou velho...
                         – Pois sim, a verdade é que eu conheço mais de uma moça bonita que se
                  daria por feliz se o senhor a escolhesse... Olhe, na festa da apresentação de Sinhá,
                  houve uma que ficou enfeitiçada pelo senhor.


                         Mãe e filha trocaram um olhar e riram alto. Depois, a Pedrosa continuou:

                         – É raro o homem que enviúva que se não torne a casar; o que é a melhor
                  prova a favor das mulheres... Ora, o seu coração por que há de ser mais insensível
                  que os dos outros? Um segundo casamento é ainda uma homenagem ao primeiro...
                  Só procuramos repetir os atos que nos trazem felicidade...
                         – Será assim, mas o meu coração é pequeno para as saudades que tenho.
                  Está todo ocupado pela minha morta...

                         Sinhá levou o lenço ao rosto e uma nuvem de Bouton d’or           adejou pela feia
                  sala do escritório. Argemiro percebeu o movimento e deliciou-se com o aroma. Que
                  significaria aquele gesto? Colheria o lenço uma lágrima ou disfarçaria um sorriso?
                  Seria ele realmente amado por aquela criança, ou simplesmente preferido por
                  aquelas mulheres como um marido de posição? Deveria ter pena, ou deveria ter
                  nojo?
                         Ah! a pobre Sinhá talvez não tivesse culpa; quem era odiosa era a mãe, que
                  assim o vinha provocar no lugar do seu trabalho arrastando pelos degraus
                  carunchosos daquela casa de homens, a sua filha solteira, apenas saída do colégio!
                  Mas a verdade era que o olhar da pequena perturbava-o, mais pela sua expressão,
                  que pela sua fixidez. Obedeceria ela à sugestão da mãe, ou agiria a mãe em
                  obediência a uma súplica da filha? Argemiro, apesar de lisonjeado na sua vaidade
                  de homem, começou a desejar a saída das duas senhoras; mas a Pedrosa não
                  parecia apressada e entrou pela seara da política, como entrara pela do amor.
                         Acertou no ponto de fascinação. Ela estava bem informada; Argemiro abriu
                  ouvidos curiosos e dobrou-se na cadeira para escutá-la de mais perto. Ela era
                  indiscreta, por ser com ele... pedia segredo de algumas afirmações, mostrando-se
                  de vez em quando em oposição a atos do marido...

                         – Pedrosa morre por servi-lo em qualquer coisa... veja se inventa um pedido,
                  para contentá-lo... – concluiu ela, levantando-se com um arzinho malicioso nos olhos
                  espertos.

                         Sinhá imitou-a, quebrada de languidez, como desanimada...
                         Argemiro observou-a de face; ela baixou os olhos, corando. Estava galante.

                         – Recebemos às sextas-feiras e Sinhá tem umas amigas novas que desejam
                  conhecê-lo... o senhor anda muito arredio, mas nem só de saudades vive o
                  homem... é preciso distrair-se e ser amigo dos seus amigos. Até sexta-feira?
                         – Até sexta-feira.


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