Page 30 - 2M A INTRUSA
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– Eu não quero sopa.
– Estás sem apetite?
– Eu não gosto de sopa.
– Ah, aqui é preciso gostar de tudo, minha senhora! uma pessoa de educação
nunca diz a uma mesa: – eu não gosto disto, eu não gosto daquilo... toma a tua
sopinha...
E agora dize-me: como achaste a D. Alice?
– Horrenda.
Feliciano sorriu, sorriu com tamanha indiscrição, que Argemiro repreendeu-o
com um olhar.
– Seja boa e é o que se quer... precisas tratá-la com delicadeza e amizade;
ouviste?
É graças a ela que te tenho hoje aqui... Queres vinho? muito pouco... com
água... assim... Ora, a minha Glória! Tomara já ver-te moça e tomando conta
definitivamente disto tudo, para ter-te sempre aqui... sempre!
Glória, que recusara a sopa, comia agora com satisfação. O pai revia-se nela,
todo contente.
A mesa estava bem posta; desde que Alice entrara não deixara de haver
flores e frutas ao jantar.
Glória, confundindo a elegância com o luxo, exclamou:
– Que mesa rica, papai!
– Se viesses jantar comigo antes da D. Alice estar aqui, não dirias isso,
embora na mesa estivessem as mesmas porcelanas e os mesmos talheres. Repara
nisto, minha filha, que a arte e o gosto dão às coisas mais simples uma aparência de
conforto e de alegria muito agradáveis à vida. A minha mesa era triste... agora é
assim!
Feliciano franziu as sobrancelhas, mal humorado. Glória confessou:
– Lá em casa só se põe flores na mesa em dias de visitas...
– Porque tua avó é uma senhora idosa e cansada. Compete agora a ti esse
trabalho. Informa-te com a D. Alice a esse respeito. Ela parece perita na arte de
fazer buquês.
Repara para aquele...
– Quem não sabe!
– Pensas que é fácil?
– Tenho a certeza.
– Pois então incumbo-te de fazeres todos os dias um ramo para a mesa de
teu avô...
– Está dito.
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