Page 25 - 2M A INTRUSA
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                         E quer confiar-lhe a sua filha, durante as horas em que ela estiver na cidade!
                  Oh! meu amigo, isto não parece seu!


                         – Que queria, mamãe, que eu fizesse! Quantas e quantas vezes lhe pedi que
                  me ajudasse a arranjar uma preceptora para Maria e que fosse ao mesmo tempo
                  governanta da minha casa, e a senhora não se quis nunca dar a esse trabalho...
                  Afinal, eu não lhe roubo a neta. Maria da Glória irá só aos sábados. É justo que eu
                  também goze um pouco da companhia de minha filha. Voltará no próprio sábado, ou
                  no domingo pela manhã...
                         – Era só o que faltava... Glória dormir fora de casa, entregue a uma mulher
                  saída

                         Deus sabe de onde! Uma mulher de anúncio! Uma... – a baronesa conteve-
                  se; e depois de uma pausa, em que bateu com o garfo na mesa: – É velha, ao
                  menos, essa criatura?

                         – É moça...
                         – Hein?!
                         – Tem vinte e poucos anos.
                         – Não é possível, Argemiro, ter essa mulher em casa!
                         – Por quê?!
                         – Não é conveniente...
                         – Pois já lá está. Entrou esta manhã.
                         – Poderá sair esta noite...
                         – Não. Eu já esperava esta tempestade, e pela milésima vez direi isto: eu não
                  podia dispensar em casa uma pessoa que soubesse dirigir os meus criados, coisa
                  de que eu sou incapaz. Reparem bem para o Feliciano. Veste-se no meu guarda-
                  roupa, fuma os meus charutos, folheia as minhas revistas e serve-se da minha
                  carteira muito melhor do que eu! Os outros, por seu lado, roubam como podem e
                  trazem o serviço mal acabado, feito por favor... Além disso, eu quero ter minha filha
                  à minha mesa, uma vez por semana, ao menos, e não podia deixá-la só, entregue a
                  homens, e que homens! Concordem que não é exigir muito!
                         – Pois sim! Fizesse tudo isso, mas arranjasse governanta respeitável, mulher
                  idosa e com bons certificados... Conheço o seu caráter, sei que não poria nunca
                  minha neta em contato com uma... – Aí tremeu o queixo à baronesa e ela concluiu
                  sufocadamente:
                         – Pobre da minha filha!

                         Houve um silêncio constrangido. O barão interrompeu-o:


                         – Bom, bom! Está tudo determinado: aos sábados Glória irá visitar o pai. É
                  muito justo...
                         – A moça é bonita, papai? – perguntou Glória.

                         A baronesa olhou para o genro com curiosidade.


                         – Não sei... falei-lhe uma vez só, e ela levava a cara tapada por um véu
                  lavrado, muito espesso. Mas não me pareceu bonita; nem mesmo isso me importa.
                  Quanto aos atestados, mamãe, ela deu-mos e bons. O padre Assunção tomou
                  algumas informações a seu respeito e todas excelentes. Está claro que eu não

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