Page 29 - 2M A INTRUSA
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                         – Siga-me...

                         Atravessaram o corredor, subiram uma escada e entraram em um quarto
                  forrado de azul, com janelas abertas para os lados do Silvestre e duas camas
                  brancas.

                         – É aqui?!
                         – É aqui.
                         – De quem é esta cama?
                         – Sua.
                         – E aquela?
                         – Minha.
                         – Eu quero dormir sozinha; não sou medrosa. Arranje outro quarto para mim.
                  Agora, tire-me o chapéu!

                         Glória sentou-se na cama, brutalmente. Alice tirou-lhe o chapéu e endireitou-
                  lhe o cabelo. A menina foi ao espelho, achou-se bem penteada e lá no fundo da sua
                  consciência concordou que jamais sentira pousar sobre a sua cabeça mãos mais
                  habilidosas. Voltando-se contemplou Alice de alto a baixo, e perguntou:

                         – Quantos anos tem?
                         – Vinte e três.
                         – Parece mais velha.

                         Alice sorriu.


                         – Eu tenho doze...
                         – Parece mais criança...
                         – Hein?! toda a gente diz que já pareço uma moça! É míope?
                         – Parece criança no juízo, minha amiguinha, e é por eu ver muito bem que lhe
                  digo isto... Não seja má... venha lavar as mãos; seu pai espera-a para jantar; não
                  está ouvindo o tímpano? É o sinal...


                         Glória tremia, sem atinar com a resposta para semelhante afronta. Depois,
                  num desabafo: – Você é muito grosseira!
                         Alice apoiu-se às costas da cama e fechou os olhos.

                         – Bem diz vovó: sempre é mulher de anúncio!
                         – Quê?!


                         Glória não respondeu, e correu, rindo às gargalhadas, para a mesa do jantar.
                  Argemiro esperava-a de abraços abertos.


                         – Ah! como a tua alegria me faz bem ao coração! Senta-te aqui e conta-me:
                  por que te ris tanto?
                         – Por nada... à toa!
                         – À toa! como é bom rir à toa! Como eu preciso da tua inocência ao pé de
                  mim! Ri sempre, meu amor!... Olha o guardanapo... Estás contente?... aqui tens o
                  teu pãozinho... É a primeira vez que jantas sozinha com teu pai... que te parece?
                  Olha a tua sopinha... Está a teu gosto?

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