Page 24 - 2M A INTRUSA
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Argemiro pegou nas mãos da sogra e disse:
– Mamãe, talvez a senhora tenha razão; mas a verdade é que Glória já
chegou a uma idade em que não deve ser tratada como o animalzinho amimado que
é. Precisamos prepará-la para o futuro, que é sempre incerto. Imagine que um dia,
que infelizmente há de vir, faltem à nossa Glória os seus cuidados, os do avozinho e
os meus... que será dela, se for uma ignorante, ela que é tão impulsiva e... tão
geniosa; hein?
– Quando isso acontecer, para longe o agouro, sua filha estará casada!
– Estará ou não. E se for mal casada? Se o marido esbanjar toda a sua
fortuna e a atirar depois às urtigas?
Os olhos da baronesa encheram-se de lágrimas; o velho pigarreou,
advertindo o genro que avançara demais no caminho das hipóteses; mas a
baronesa reagiu, sorrindo:
– Glória casará bem, com um homem que a ame e a respeite. Não faltava
mais nada! minha neta mal casada! pobre... desprezada... precisando trabalhar para
viver... que coisa horrível!
– O que é horrível, mamãe, não é trabalhar; é não saber trabalhar!
– Ora... a necessidade é o melhor mestre; se algum dia... oh! não! nem
pensar nisso!... A minha Glória nasceu para ser amada. Eu leio naqueles olhos esse
destino... É um pouco brusca... é um tanto autoritária... ora adeus! os homens
gostam disso.
Riram-se e o riso abafou um suspiro em que o Argemiro murmurou:
– Eu queria-a mais meiga.
– Vovó, o jantar está na mesa! – gritou Gloriazinha do corredor, falando com a
boca cheia.
– Já ela me foi às nozes... não tenho remédio senão concordar com ela; é um
diabinho e é assim que eu a amo!
Foi só à sobremesa que Argemiro declarou ter tomado uma governanta para
casa, e querer daí em diante ter uma visita da filha todas as semanas. Era um
sacrifício para ele, homem tão ocupado, ir ali amiúde. Assim dividiriam o trabalho.
A sua Gloriazinha iria jantar com ele todos os sábados, que era o seu dia
mais livre.
A sogra parecia aterrada.
– Uma governanta!... quem a inculcou? – perguntou ela, mal disfarçando a
sua má impressão.
– Ninguém; respondeu o genro placidamente; – arranjei-a por anúncio.
A baronesa pulou na cadeira.
– Por anúncio! meteu em sua casa, na casa da minha filha, uma mulher por
anúncio!
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