Page 21 - 2M A INTRUSA
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                         – Condição essencial!
                         – E que tu com toda a tua viuvez aproveitarias melhor do que eu...
                         – Aprecio pouco o tipo e detesto a raça...


                         Adiante, o grupo de rapazes aumentara com outros sujeitos, que,
                  abandonando os seus lugares, tinham vindo discutir a eleição do clube. Um dos
                  moços, no calor da discussão, sentara-se no braço do banco em que viajava a
                  senhora de cabelos grisalhos. Ela encolheu-se, com ar constrangido. O rapaz gritava
                  aos outros:


                         – Se eu não tivesse educação, não teria contido o ímpeto que tive de
                  esbofetear o

                         Andrade, ali mesmo no clube!
                         Um outro advertiu-o de que ele estava incomodando a viajante; ele levantou-
                  se com uma desculpa e foi nesse instante que o trem parou em Madureira.
                         Caldas e Argemiro encontraram na estação a vitória do barão, que os
                  esperava.

                         – Lá em casa todos bons? – perguntou Argemiro ao cocheiro.
                         – Todos bons.
                         – Nota esta esquisitice, Adolfo; só me lembra que minha filha pode estar
                  doente no momento em que me aproximo dela. Assalta-me então o terror de a ir
                  encontrar de cama...


                         A chácara do barão ficava a um quilômetro da estação. O carrinho partiu ao
                  galope de um cavalo ligeiro, e dez minutos depois transpunha o largo portão da
                  chácara, seguindo até à porta da habitação, por uma extensa rua de mangueiras
                  belíssimas.

                         – Como isto repousa a gente! – exclamou Caldas, aspirando com força o
                  aroma da flor de fruta e pascendo o olhar pela frescura daquelas sombras.
                         – O Paraíso... murmurou Argemiro, esticando o pescoço, a ver se via, ainda
                  que de longe, a filha.

                         Antes que o carro chegasse a casa, Maria da Glória atravessou aos gritos um
                  grande relvado lateral da rua e, irrompendo de entre as mangueiras, atirou-se para o
                  carro alegremente:


                         – Papai! papai!

                         O cocheiro mal teve tempo de diminuir a marcha do animal e ela trepou para
                  o estribo, enfiando no carro a cara afogueada e risonha. O pai segurou-a, puxando-a
                  para dentro, sem coragem de ralhar com ela por aquela imprudência. Tentou falar,
                  ela cobriu-lhe as barbas de beijos.


                         – Que exuberância! – exclamou Caldas, rindo.


                         Chegavam à porta do velho palacete dos barões do Cerro Alegre.


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