Page 18 - 2M A INTRUSA
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                         Argemiro cumprimentou-o pelo seu artigo dessa manhã. Bons argumentos,
                  excelentes demonstrações!
                         Pedrosa esfregou as mãos: sim, ele era sincero e estudara a questão a fundo.
                  Fora impelido à publicidade por uma série de circunstâncias muito especiais; do
                  contrário nunca sairia do seu retiro, onde queimava as pestanas a ler os mestres e a
                  estudar as mais graves questões financeiras do país...
                         O conselheiro Isaías afirmou:

                         – Ainda não pude ler o seu artigo; mas o presidente leu-o e ficou bem
                  impressionado.


                         Pedrosa deu um saltinho involuntário:

                         – O presidente leu o meu artigo? Gostou? Ah, mas naturalmente! Ele há de,
                  forçosamente, ver que eu não aponto ali senão erros da administração passada e
                  que lhe têm acarretado a ele enormes embaraços...
                         – Difíceis de vencer...
                         – Facílimos, senhor, facílimos!
                         – A verdade é que o presidente não está bem rodeado e deixa-se influenciar
                  pelos ministros, mais do que convém... objetou Sebrão.
                         – Isso! – aprovou Pedrosa, estendendo a mão em forma de juramento.


                         Os outros olhavam para ele com certa admiração. Pedrosa continuou um
                  tanto confidencial:


                         – Eu é que não quero dizer a última palavra...

                         Nesse instante rompeu a música e Argemiro achou mais interessante ir ouvir
                  o segundo ato da Tosca, do que a última palavra do Pedrosa. Cumprimentou-os à
                  pressa e caminhou para a escada.



                  Capítulo III

                         O trem dos subúrbios ia partir, quando Adolfo e Argemiro entraram na gare da
                  Central. Adiante deles corria uma multidão pressurosa e atrapalhada, sobraçando
                  embrulhos e arrastando crianças.


                         – A hora do jantar aqui é uma hora perigosa, Argemiro! E digam que o
                  feijãozinho não tem prestígio!


                         Nesse instante sentiram-se empurrados. Eram umas senhoras que lhes
                  tomavam a dianteira no assalto, muito nervosas, olhando para trás, a contar-se, com
                  medo que não ficasse alguma extraviada.


                         – Isto é uma ignomínia. Obriga tua sogra a vir cá para baixo.
                         – Imagina se não lhe tenho pedido! Cada vez que vou ver minha filha é este
                  horror!


                         E perco um tempo!
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