Page 121 - 2M A INTRUSA
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– Então... como recebeu o homem a notícia?
– Mal...
– Hum... foi o diabo!...
– A senhora baronesa?...
– Oh, você sabe, minha mulher não pode tolerar a outra. Aquilo é uma
doença. Doença que nem os médicos nem os padres curam... Esgotei todos os
argumentos a favor desta pobre rapariga; afinal, compreendi que o melhor seria
deixar correr a água ao sabor da corrente. Os fatos brutais resolvem às vezes
questões delicadas melhormente do que palavras doces. Depois, esta situação é
intolerável e não podia ser prolongada, sob pena de ver a minha mulher no hospício
ou na sepultura... Sacrifício por sacrifício, mais vale o da moça... lá terá na própria
mocidade consolação para os seus desgostos... se esse nome merece o dissabor do
desemprego. Afinal, não devemos exagerar os fatos. Casas não faltam para essa
espécie de serviço. Mais lamento eu o Argemiro, que vai voltar aos embaraços
antigos logo que tornemos para a chácara... Veja você se conhece alguém nas
condições de substituir esta moça... D. Sofia talvez possa indicar.
– D. Alice é insubstituível.
– Ora, ora! também você!
– Eu, mais do que ninguém, posso afirmá-lo. Como sabe, Argemiro pediu-me
que tomasse informações da governanta, logo que se decidiu a confiar-lhe a filha...
A mim bastava-me vê-la e ouvi-la para perceber que a nossa Glória estava bem
entregue... mas a missão era tão delicada, que insisti em levá-la até o fim, mais com
o propósito de defender a pobre moça destes ataques previstos, do que por
desconfiar dela. O caso ajudou-me. Um amigo de meu pai, o coronel Barredo, que
tem a especialidade de saber a crônica de meio mundo, veio ao meu encontro, e por
me ter visto a conversar com ela, desandou a falar a seu respeito, poupando-me o
trabalho de uma inquirição, para que me faltava o jeito...
– Isso seria vago...
– Era positivo. O Barredo estava ao fato de tudo, conhecia té a fórmula do
contrato entre Argemiro e D. Alice! Há desses homens extraordinários, cujas vistas
perfuram paredes e desvendam mistérios... Ainda nós não sabemos do que se
passa em nosso interior e já eles estão senhores do nosso segredo!
– As informações que ele deu foram então...
– Magníficas. Terei ocasião de repeti-las agora diante da sra. baronesa.
– Pelo amor de Deus, não tente uma reconciliação! Seria recomeçar!
– Não se tratará senão de uma reparação. Mas sempre os conheci justos e
amigos do fazer bem.
– Caridade bem entendida por nós mesmos é começada...
– Não se fala agora de caridade, mas de justiça!
– Dir-se-ia discutir-se a saída de um ministro de Estado!...
– Esta é mais sensível e merece maior ponderação.
– Enfim, o que está feito está feito. Parece-me que não vou gora pedir à
menina que fique, pelo amor de Deus! Eu fiz muito dirigindo-me a ela e pedindo-lhe
desculpa pela forma por que minha mulher a despediu...
– Ah! e ela o que disse?
– Gaguejou umas coisas, fez-se vermelha, eu creio que o estava também, e
voltei para o meu quarto mandando ao diabo as mulheres! Ah! Assunção, estou
morto pelas minhas mangueiras e o sossego da minha casa. Passou-me a idade das
fantasias, mas não me posso coibir de lamentar minha mulher. Ela está doente,
levanta-se de noite, não dorme sem o retrato de Maria embaixo do travesseiro... É o
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