Page 119 - 2M A INTRUSA
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                  pela sua pessoa. Um desejo de matar saudades de uma desconhecida! Voltou para
                  o interior do quarto. Em cima da sua mesinha estava uma carta fechada, sobrescrita
                  por mulher.
                         "Quem sabe se será a sua despedida?" – pensou; e abriu-a com presteza.
                  Leu:
                         "Meu amigo:
                         Fui pedida em casamento e desejo apresentar-lhe o meu noivo. Estou
                  radiante! Venha.
                         Sinhá."
                         Sinhá... o pavilhão japonês... Fechava-se o pano sobre essa fantasia, cujo
                  interesse se deixara todo para o fim. Estimava a felicidade da moça. Levar-lhe-ia
                  uma prenda que o lembrasse no seu lar, eternamente. Era feliz, essa. Começava. E
                  ele? Estava no fim. Sem destino, aborrecido, cansado... e ansioso!



                  Capítulo XX

                          – Feliciano! diga a sra D. Alice que eu desejo falar-lhe...
                         – Ela está na sala de jantar, com D. Maria da Glória...
                         – Bem, então não a incomode; eu vou lá.

                         O barão sumira-se atrás do genro, pela escada acima, e o padre Assunção
                  seguiu pelo corredor.
                         Glória enfeitava uma cesta de flores e frutas, dirigida pela governanta. Era
                  para o centro da mesa do almoço. Assunção parou entre portas, ouvindo-as sem ser
                  pressentido:


                         – ... Tenha o cuidado, Glória, de combinar as cores, de modo que umas
                  façam ressaltar as outras... por exemplo, sempre que tiver flores escuras, como
                  estas roxas, ponha-as ao lado de brancas ou amarelas... Refresque o musgo com
                  água todos os dias... Não consinta na mesa de seu pai nenhuma falta... você já está
                  uma mocinha... Hoje, por exemplo, ofereça-se para lhe descascar uma laranja, e
                  assim procure servi-lo todos os dias... Não... essa maçã não fica bem aí... repare
                  que é da mesma cor do pêssego... ponha-a antes aqui, entre esta camada de
                  musgo...

                         Assunção interrompeu-as:


                         – D. Alice...

                         Alice voltou-se. Estava pálida, com os olhos pisados de choro.
                         Glória exclamou:

                         – Ah! padre Assunção! estou muito triste.
                         – Já sei; vai brincar um pouco, minha filha, preciso falar com a tua mestra...
                         – Eu não sou mestra...
                         – Assisti ainda a um trecho de lição!...
                         – Conselhos... só...


                         Glória, entretanto, sussurrava ao ouvido do padrinho:
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