Page 120 - 2M A INTRUSA
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                         – Faça com que ela fique cá em casa, sim?!

                         E saiu correndo.


                         – Sabe o que a Glória me pediu?
                         – Adivinho...
                         – Recebi ontem uma carta do barão, dizendo-me que a senhora quer deixar
                  esta casa...
                         – Despediram-me.
                         – Hein?!
                         – Despediram-me.

                         Assunção quedou-se atônito diante da moça.


                         – Não se admire; os meus serviços deixaram de ser precisos, já sou demais
                  aqui.
                         – Mas...
                         – Pressenti no senhor um amigo, e sei que me defenderá mais tarde. Isto já é
                  uma compensação! Daqui a duas horas sairei desta casa...

                         A voz tremeu-lhe, um rubor cobriu-lhe as faces, e concluiu:


                         – Logo que tenha feito as contas com o Dr. Argemiro...
                         – Supus que a resolução tivesse sido sua, e por isso procurei-a em primeiro
                  lugar, desejando convencê-la a mudar de idéia...
                         – Enganou-se... Fui posta na rua, e se não fosse corajosa teria abandonado
                  ontem mesmo o meu posto. Não quero que saiba pela minha boca o que se passou.
                  Outros lho dirão. Só lhe peço uma coisa: afirmar que eu sou uma rapariga
                  absolutamente honesta, se acaso ouvir qualquer alusão desairosa...
                         – Não ouvirei; todos a consideram aqui e eu sei bem quem a senhora é.
                  Estive em sua casa.
                         – O senhor!
                         – Mas não disse a ninguém. Descanse. Permita que a deixe, para ir falar à
                  baronesa. Vejo que era a ela que eu me deveria dirigir primeiro... Em todo o caso,
                  prometa-me não sair sem falar com o Argemiro.
                         – É só por isso que eu espero.

                         Assunção contemplou-a. Ela fizera-se de novo como um lacre.


                         – Que tenciona dizer-lhe?
                         – Prestar-lhe as minhas contas. Tenho tudo em ordem. É questão para vinte
                  minutos...


                         "Dizem-se num minuto mais de cem palavras"- pensou o padre consigo;
                  "terão tempo de conversar!..."
                         O Feliciano entrava e saía, remexendo nos talheres, abrindo e fechando
                  gavetas, maciamente.
                         Sentindo passos na escada, Alice fugiu para o interior. O padre voltou-se. Era
                  o barão.
                         O velho aproximou-se.

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