Page 112 - 2M A INTRUSA
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                         – Nem uma desculpa! Não quero ouvir mais nada! Tudo é mentira! Já; lá para
                  dentro! E não me torne a pôr os pés neste quarto.
                         – Vovó...
                         – Cale a boca! ande!... ande!

                         E, pela primeira vez em sua vida, a baronesa empurrou com as mãos
                  fechadas, brutalmente, o corpo da neta.

                         – Saia daqui! já disse! Rode depressa, antes que eu perca a cabeça! Fuja!
                  que está-me ficando perdida pelas más companhias!


                         E, sem interromper o tom de fúria, com os olhos vermelhos, a papada trêmula,
                  voltou-se para Alice:


                         – Quanto à senhora, não é precisa para nada aqui. Se fosse outra teria
                  compreendido que já é demais. Eu sou suficiente para tomar conta da casa da
                  minha filha. Veja quanto se lhe deve e retire-se hoje mesmo.


                         Alice, com os olhos engrandecidos pelo espanto e pela lividez nervosa das
                  faces, respondeu, forçando a calma:


                         – Não conheço a senhora sua filha.
                         – É demais!
                         – Considero a casa como do seu genro e só ele poderá dispensar os meus
                  serviços.
                         – Isso é um atrevimento!
                         – É uma resposta.
                         – Bem me diziam que a senhora não era apenas uma criada, mas também a
                  amante de Argemiro!
                         – Enganaram-na. Nem uma, nem outra coisa.
                         – Se fosse outra, eu não precisaria dizer tanto, para que já estivesse lá fora!


                         Capacito-me de que realmente a sua companhia é prejudicial à minha neta e
                  não hesito em pô-la na rua. Saia!
                         Alice não respondeu, fixando os olhos no rosto transtornado da baronesa. E
                  depois, com raiva subjugada:

                         – E se eu não quiser?...
                         – Sairá à força. De mais a mais, é cínica!
                         – Sou honesta. Estou de guarda a um lugar que me confiaram e que
                  defenderei até a morte. Seu genro chega amanhã. Partirei depois dele ter entrado
                  nesta casa. Antes, não! não, não e não!
                         – Ah, a amaldiçoada! Imagina talvez que Argemiro a prefira a mim! –
                  exclamou a baronesa com uma gargalhada insultuosa.

                         Alice mordeu os beiços para não responder: todo o corpo lhe tremia, como
                  num acesso de febre.
                         Glória correra para o quintal. E era como se a casa se desmoronasse sobre a
                  sua cabeça. Que razão teria a avó para querer tanto mal à D. Alice? Que iria
                  suceder?! A quem gritar por socorro?

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