Page 110 - 2M A INTRUSA
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– Não...
– Lembras-te de ser sogra, quando já não o és...
– Sou.
– Em vida de Maria o teu genro era para ti um deus!
– Porque fazia a sua felicidade. Mas agora traiu-a... Vamos lá para baixo.
Onde estará Glória metida? Amanhã... ele volta amanhã... e eu tenho sido tão
cobarde... não sei o que me dá, quando vejo aquela mulher! Delambida. E embaixo
daquela pele macia ela tem uma alma de ferro. É dura.
– O Argemiro não há de gostar quando souber que nunca a admitimos à
nossa mesa...
– Ela ia à dele porventura?
– É diferente.
– Ora...
– Também não lhe agradará a confiança exagerada que dás ao Feliciano...
– É cria de casa...
– É um velhaco.
– Também te desagrada?
– Completamente.
– Pobre rapaz... Prouvera a Deus que a outra fosse tão sincera...
O barão limitou-se a sorrir, com escárnio e tristeza.
Desceram.
A baronesa gritou:
– Feliciano! Onde está minha neta?
– No quarto de D. Alice...
– Vá chamá-la.
E depois, como para si: "A casa não é tão pequenina assim; o diabinho da
menina mete-se naquele quarto maldito... para quê?!"
O barão desceu ao jardim, calado, sem disfarçar o seu aborrecimento e um
certo pavor. Começava a cena...
Feliciano batia com os nós dos dedos na porta da governanta.
– D. Glória?
– Que é? – respondeu ela de dentro.
– Sua avó está chamando a senhora...
– Diga a vovó que já vou. Estou desenhando!
A baronesa exasperava-se, passeando na sala de jantar. E como a menina
não aparecesse logo, ela gritou:
– Feliciano!
– Senhora?...
– Então?
O negro sorriu malevolamente:
– Estão conversando...
– Bata outra vez! Diga que venha já! Desaforo!
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