Page 11 - 2M A INTRUSA
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                         – Bem... desculpe-me a minuciosidade. Poderá dizer-me em que casa
                  desempenhou o cargo a que se propõe?


                         Ela pareceu não entender; depois disse baixo:

                         – Na minha... na de meu pai...
                         – Ah!... O nome de seu pai é...
                         – Meu pai morreu... e é por isso que eu...

                         Houve uma pausa. Argemiro consultou o relógio. Era tarde. O diabo da
                  mulher não serviria?!

                         – Que idade tem?
                         – Vinte e cinco anos...
                         – É saudável? A saúde é também uma das condições que eu exijo.
                         – Sou.
                         – Pois, minha senhora, infelizmente tenho o tempo contado e não posso
                  demorar-me. Vou procurar em poucas palavras fazer-me bem entendido; peço-lhe
                  que me escute com a maior atenção e que me responda com absoluta franqueza.
                  Como lhe disse, quero uma governanta para minha casa, que seja ao mesmo tempo
                  uma companheira para minha filha nos dias em que ela vier ver-me. Para isso é
                  preciso que essa governanta seja uma senhora séria, sobretudo educada, não digo
                  instruída, mas que enfim não seja analfabeta e que tenha hábitos de asseio, de
                  ordem e de economia. É absolutamente preciso pôr um dique à impetuosidade das
                  minhas despesas domésticas. Eu não posso tratar disso. A senhora dirigirá tudo,
                  com energia, de modo a regularizar as coisas definitivamente. Para isso lhe darei
                  toda a força moral. Há uma cláusula, que talvez lhe pareça absurda, mas é
                  indispensável na nossa situação, caso a senhora aceite as condições que estipulo...


                         Ele parou, com ar interrogativo.
                         Ela respondeu com um fio de voz trêmula:


                         – Perfeitamente...
                         – É esta: não nos vermos senão quando isso for absolutamente
                  indispensável, ou melhor, não nos vermos nunca! A razão desta esquisitice, ou desta
                  mania, não pode ser explicada por inteiro em poucas palavras; suponha, porém, que
                  repousa só nisto: não querer eu que paire sobre quem deve velar por minha filha
                  nem a sombra de uma suspeita! A minha casa é grande, tem dois pavimentos e eu
                  passo o dia na cidade, só vindo jantar à noite. Na minha ausência toda a casa será
                  sua; desde que eu entre a senhora saberá e poderá evitar-me. Acha isso possível?
                         – Acho...
                         – Concorda em que seja assim?
                         – Concordo.
                         – Pense na responsabilidade que vai assumir.
                         – Já pensei...
                         – Eu sou exigente. Quero sentir na minha casa a influência de uma pessoa
                  moça, saudável e ordenada. Não quero ver essa pessoa, por motivos que expus e
                  por outros particulares e que não vêm ao caso, como também já disse. Aviso-a de
                  que sou comodista. A senhora julga-se com os predicados que apontei?
                         – Julgo-me.

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