Page 26 -
P. 26
com ele; mas ambos já eram noivos.
Sonhara a moça com o número da sepultura da avó - 1724; e ouvira a voz dela, da
sua vovó, que lhe dizia: "Filha, joga neste número ! "
O sonho impressionou-a muito; nada, porém, disse ao marido. Saído que ele foi
para a repartição, determinou à criada o que tinha a fazer e procurou afastar da memória
tão estranho sonho.
Não havia, entretanto, meios para conseguir isso. A recordação dele estava
sempre presente ao seu pensamento, apesar de todos os seus esforços em contrário.
A pressão que lhe fazia no cérebro a 1embrança do sonho, pedia uma saída,
uma válvula de descarga, pois já excedia a sua força de contenção. Tinha que falar, que
contar, que comunicá-lo a alguém...
Fez confidência do sucedido à Genoveva. A cozinheira pensou um pouco e disse:
- Nhanhã: eu se fosse a senhora arriscava alguma cousa no "bicho".
- Que "bicho" é ?
- 24 é cabra; mas não deve jogar só por um lado. Deve cercar por todos e
fazer fé na dezena, na centena, até no milhar. Um sonho destes não é por aí cousa à
toa.
- Você sabe fazer a lista?
- Não, senhora. Quando jogo é o Seu Manuel do botequim quem faz " ela".
mas a vizinha, Dona Iracema, sabe bem e pode ajudar a senhora.
- Chame " ela" e diga que quero lhe falar.
Em breve chegava a vizinha e Zilda contou-lhe o
acontecido. Dona Iracema refletiu um pouco e
aconselhou:
- Um sonho desses, menina, não se deve desprezar. Eu, se fosse a vizinha, jogava
forte.
- Mas, Dona Iracema, eu só tenho os oitenta mil-réis para pagar a casa. Como há
de ser?
- A vizinha cautelosamente respondeu: