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Voltou em breve a si, graças às esfregações de vinagre de Dona Iracema e de
Genoveva. Carlito foi buscar o dinheiro que subia a mais de dous contos de réis.
Recebeu-o e gratificou generosamente o rapaz, a mãe dele e a sua cozinheira, a
Genoveva. Quando Augusto chegou, já estava inteiramente calma. Esperou que ele
mudasse de roupa e viesse à sala de jantar, a fim de dizer-lhe:
- Augusto: se eu tivesse jogado o aluguel da
casa no "bicho". você ficava zangado?
- Por certo! Ficaria muito e havia de censurar você com muita veemência, pois
que uma dona de casa
não...
- Pois, joguei.
- Você fez isto, Zilda?
- Fiz.
- Mas quem virou a cabeça de você para fazer semelhante tolice? Você não
sabe que ainda estamos
pagando despesas do nosso casamento?
- Acabaremos de pagar agora mesmo.
- Como? Você ganhou?
- Ganhei. Está aqui o dinheiro.
Tirou do seio o pacote de notas e deu-o ao marido, que se tornara mudo de
surpresa. Contou as pelejas muito bem, levantou-se e disse com muita sinceridade.
abraçando e beijando a mulher..
- Você tem muita sorte. É o meu anjo bom.
E todo o resto da tarde, naquela casa, tudo foi alegria.
Vieram Dona Iracema, o marido, o Carlito, as filhas e outros vizinhos.
Houve doces e cervejas. Todos estavam sorridentes, palradores; e o
contentamento geral só não desandou em baile, porque os recém-casados não tinham
piano. Augusto deitou patriotismo com o marido de Iracema.
Entretanto, por causa das dúvidas, no mês seguinte, quem fez os
pagamentos domésticos foi ele próprio, Augusto em pessoa.
Revista Sousa Cruz, Rio, maio 1921.