Page 77 - 3M A ALMA ENCANTADORA DAS RUAS
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Chegou o povo, Nenê Floreada
               É o pessoal, ai! ai!
               Da "Pedra Encantada".


               Mas a multidão, sufocada, ficava em derredor da "Pedra" entaipada por outros quatro cordões que
               se encontravam numa confluência perigosa. Apesar do calor, corria um frio de medo; as batalhas
               de confetti cessavam; os gritos, os risos, as piadas apagavam-se, e só, convulsionando a rua,
               como que sacudindo as casas, como que subindo ao céus, o batuque confuso, epiléptico, dos
               atabaques, "xequedés", pandeiros e tambores, os pancadões dos bombos, os urros das cantigas
               berradas para dominar os rivais, entre trilos de apitos, sinais misteriosos cortando a zabumbada
               delirante como a chamar cada um dos tipos à realidade de um  compromisso anterior.  Eram  a
               "Rosa  Branca",  negros  lantejoulantes  da  Rua  dos  Cajueiros,  os  "Destemidos das Chamas", os
               "Amantes  do  Sereno"  e  os  "Amantes  do  Beijaflor"!  Os  negros  da  "Rosa",  abrindo  muito  as
               mandíbulas, cantavam:


               No Largo de S. Francisco
               Quando a corneta tocou
               Era o triunfo "Rosa Branca"
               Pela Rua do Ouvidô.


               Os "Destemidos", em contraposição, eram patriotas:


               Rapaziada, bate,
               Bate com maneira
               Vamos dar um viva
               À bandeira brasileira


               Os "Amantes do Sereno", dengosos, suavizavam:


               Aonde vais, Sereno
               Aonde vais, com teu amor?
               Vou ao Campo de Santana
               Ver a batalha de flô.





               E no meio daquela balbúrdia infernal, como uma nota ácida de turba que chora as suas desgraças
               divertindo-se, que soluça cantando, que se mata sem compreender, este soluço mascarado, esta
               careta d’Arlequim choroso elevava-se do "Beija-Flor":


               A 21 de janeiro
               O "Aquidabã" incendiou
               Explodiu o paiol de pólvora
               Com toda gente naufragou


               E o coro:
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