Page 63 - 3M A ALMA ENCANTADORA DAS RUAS
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A manifestação satisfaz. Dudu leva-me quase à força para um lugar de honra e eu vejo uma
               mulatinha com o cabelo à Cléo de Merod, enfiada numa confusa roupagem rubra.


               – Quem é aquela?


               – É Etelvina. Tá servindo de porta-bandeira...


               Não era necessária a explicação. O pessoal, quebrando todo em saracoteios exóticos, cantava
               com as veias do pescoço saltadas:


               Porta-bandeira deu siná,
               Deu siná no Humaitá,
               Porta-bandeira deu siná,
               Deu síná tulou, tulou!


               Aproveito a consideração do Dudu para compreender o presepe:


               – Por que diabo põem vocês o retrato da imperatriz ali?


               – A imperatriz era mãe dos brasileiros e está no céu.


               – Mas Napoleão, homem, Napoleão?


               – Então, gente, ele não foi rei do mundo? Tudo está ali para honrar o menino Deus.


               – A bailarina também?


               – A bailarina é enfeite.


               – Guardo religiosamente esta profunda resposta.


               Os do reisado cantam agora uma certa marcha que faz cócegas. Os versinhos são errados, mas
               íntimos e, sibilizados por aquela gente ingenuamente feroz, dão impressões de carícias:


               Sussu  sossega
               Vai dromi teu sono
               Está com medo diga,
               Quer dinheiro, tome!
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