Page 80 - 2M A INTRUSA
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Adolfo acendia um charuto. Assunção adiantou-se para mandar parar o
bonde.
Capítulo XIV
A baronesa não recebera ainda a carta anunciada pela cartomante e andava
inquieta, doente. Glória voltava radiante todas as segundas-feiras das visitas
paternas e não tinha na boca senão o nome de D. Alice.
Aquilo fazia recrudescer o desespero da pobre senhora.
– D. Alice! D. Alice! não falas senão da tal D. Alice! que personagem!
– Eu gosto dela...
Prendendo as mãos da neta, puxando-a para si, a avó perguntava entre
suplicante e imperativa:
– Mas que te faz essa mulher para lhe quereres assim?
– Nada... passeia comigo... conversa...
– Tenho medo dessas conversas... É a tal história dos sapatinhos de ferro!
– Da vaquinha Victória?
– Sim... Que te diz ela?
– Tantas coisas... Ontem fomos ao Jardim Zoológico. Vovó há de crer? Ela
contou-me a vida daqueles bichos todos!
– Mentiras... Que pode ela saber!
– Eu contei a papai e ele afirmou que era verdade!
– Ah! tu contas a teu pai tudo que ela te diz? Bem disse eu! É a tal história
dos sapatinhos de ferro... Um dia há de enterrar-te como a madrasta fez à outra.
– Mas ela não é minha madrasta! Nem diz nada de mal... Vovó pergunte só
ao padre Assunção. Ele também gosta de conversar com ela. Ontem estavam muito
tristes...
– Ambos?!
– Ambos.
A baronesa riu-se.
– De que se ri, vovó?
– De nada... achei graça! Ia bem vestida a tua D. Alice?
– Assim... assim... ela anda quase sempre com o mesmo vestido, quando sai.
É pobre...
– Ela usa anéis?... tem alguma jóia?...
A neta admirou-se de ver a avó tão corada de repente; e, antes de responder
à pergunta, exclamou:
– Nunca vi vovó tão vermelha! – e depois, naturalmente: – Não usa anéis...
também não usa jóias.
– Nunca te falou da família?...
– Nunca... Papai me recomendou que eu nunca lhe perguntasse por isso!
– Ah! teu pai recomendou!...
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