Page 82 - 2M A INTRUSA
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– Juro!
– Jura que viverei sempre no teu coração!
– Juro!
A voz dela era como um sopro; a dele, formidável!
Maria morreu sorrindo, com os dedos embaraçados nos cabelos do esposo...
Não falara na filha... não olhara para a mãe. Fora toda dele... e ele repelia aquela
imagem angelical, para substituí-la pela de uma mercenária! Aquela amaldiçoada.
Como expulsá-la dali?! Não estaria perdendo muito tempo?...
Uma tarde, o Feliciano procurou-a; e ao relatar-lhe a sua espionagem ela
mandou-o calar-se. Não queria saber de nada por esse modo. Que se fosse embora!
O negro não pôde reprimir um movimento de espanto. Não fora ela que o impelira
àquilo?
Fora, mas em um momento de desânimo e de fraqueza. Envergonhara-se.
Readquiria a calma; estava feito o seu plano. O negro foi despedido sem
explicações e com a proibição de acompanhar a moça.
Feliciano saiu murcho, maldizendo as mulheres.
A baronesa dirigiu os seus passos pesados de mulher gorda para o escritório
do marido, que se entretinha na coleção do seu herbário.
– 325... – murmurava o barão, olhando para as suas listas; e depois:
– Que temos? – perguntou ele sem levantar a cabeça, mas percebendo no ar
qualquer novidade.
– Que tomei uma deliberação.
– Qual?...
– Ir morar com Argemiro.
– Hein?
– Ir morar com Argemiro.
– Ora essa!
O barão tirou os óculos e olhava agora de face para a mulher.
– Que idéia!
– Como outra qualquer... meu velho...
– Qual! nós não podemos viver na cidade!
– Por que não?
– Por quê?... por tudo! Tu gostas desta liberdade... há trinta anos que te
enterraste aqui e que daqui não tens querido sair para nada... eu, ao princípio,
confesso, fazia sacrifício; hoje não. Olha para esta mesa: vês? estou catalogando as
minhas plantas... plantadas aqui na minha chácara e tratadas só por mim!...
– Virás à chácara de vez em quando.
– Estás doida!
– Nunca o estive menos!
– No tempo em que Maria era viva nunca pensaste nisso, e então agora... Ora
adeus!
– No tempo de Maria eu não era lá precisa para nada; e agora sou.
– Precisa? Em casa do Argemiro?! Para quê? Estás sonhando...
– Bem acordada. Vocês é que estão dormindo...
– Hum... já sei... deixa lá a rapariga em paz, minha velha ciumenta –
exclamou o barão, rindo e cavalgando de novo a luneta no nariz.
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