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                         – Juro!
                         – Jura que viverei sempre no teu coração!
                         – Juro!


                         A voz dela era como um sopro; a dele, formidável!
                         Maria morreu sorrindo, com os dedos embaraçados nos cabelos do esposo...
                  Não falara na filha... não olhara para a mãe. Fora toda dele... e ele repelia aquela
                  imagem angelical, para substituí-la pela de uma mercenária! Aquela amaldiçoada.
                         Como expulsá-la dali?! Não estaria perdendo muito tempo?...
                          Uma tarde, o Feliciano procurou-a; e ao relatar-lhe a sua espionagem ela
                  mandou-o calar-se. Não queria saber de nada por esse modo. Que se fosse embora!
                  O negro não pôde reprimir um movimento de espanto. Não fora ela que o impelira
                  àquilo?
                         Fora, mas em um momento de desânimo e de fraqueza. Envergonhara-se.
                  Readquiria a calma; estava feito o seu plano. O negro foi despedido sem
                  explicações e com a proibição de acompanhar a moça.
                         Feliciano saiu murcho, maldizendo as mulheres.
                         A baronesa dirigiu os seus passos pesados de mulher gorda para o escritório
                  do marido, que se entretinha na coleção do seu herbário.

                         – 325... – murmurava o barão, olhando para as suas listas; e depois:
                         – Que temos? – perguntou ele sem levantar a cabeça, mas percebendo no ar
                  qualquer novidade.
                         – Que tomei uma deliberação.
                         – Qual?...
                         – Ir morar com Argemiro.
                         – Hein?
                         – Ir morar com Argemiro.
                         – Ora essa!

                         O barão tirou os óculos e olhava agora de face para a mulher.


                         – Que idéia!
                         – Como outra qualquer... meu velho...
                         – Qual! nós não podemos viver na cidade!
                         – Por que não?
                         – Por quê?... por tudo! Tu gostas desta liberdade... há trinta anos que te
                  enterraste aqui e que daqui não tens querido sair para nada... eu, ao princípio,
                  confesso, fazia sacrifício; hoje não. Olha para esta mesa: vês? estou catalogando as
                  minhas plantas... plantadas aqui na minha chácara e tratadas só por mim!...
                         – Virás à chácara de vez em quando.
                         – Estás doida!
                         – Nunca o estive menos!
                         – No tempo em que Maria era viva nunca pensaste nisso, e então agora... Ora
                  adeus!
                         – No tempo de Maria eu não era lá precisa para nada; e agora sou.
                         – Precisa? Em casa do Argemiro?! Para quê? Estás sonhando...
                         – Bem acordada. Vocês é que estão dormindo...
                         – Hum... já sei... deixa lá a rapariga em paz, minha velha ciumenta –
                  exclamou o barão, rindo e cavalgando de novo a luneta no nariz.

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