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                         – Fiquei meio burro... disse-lhe que efetivamente tu tinhas uma ménagère,
                  mas que a não conhecias!
                         – E ela?
                         – Riu-se.
                         – Riu-se?!
                         – Escandalosamente. Eu também me ri.
                         – Tu?!
                         – Que querias que eu fizesse? Crias uma situação de comédia e impões
                  seriedades de melodrama?
                         – Mas que tem ela com a minha vida? Já se viu uma tal indiscrição? É boa!
                         – Cobiça-te para genro. Sabes perfeitamente disso! Estás farto, fartíssimo de
                  o saber, e ainda te admiras? Ora, meu velho!
                         – Mas essa senhora já deve estar convencida de que não lhe aceito a filha.
                  Não quero casar! Aposto em como não aproveitaste a ocasião para lhe dizer isto?
                         – Certamente que não! mas afinal aquela rapariga que lá tens em casa é séria
                  ou não é séria?
                         – Eu presumo que sim.
                         – Se é séria, manda-a embora, porque a comprometes; se não é... não deves
                  ter escrúpulos em fazê-la passar como tal!
                         – E minha filha? Lembra-te que tenho uma mulher em casa, não tanto pela
                  boa ordem de minha vida, como para poder recebê-la e guardá-la de vez em quando
                  comigo... E depois, sabes que mais?! pouco me importo com a opinião dos outros!
                  Deita fora o charuto. Vou despedir-me lá dentro. Estou enojado. Lá te espero quarta-
                  feira. Não te esqueças...
                         – Ó egoísta! lá irei com um baralho novo!


                         Argemiro entrou na sala a tempo de aplaudir a Sinhá, que acabava de tocar
                  uma réverie ao piano. Vendo-o, a Pedrosa foi ao seu encontro:


                         – Pensei que fosse hoje todo do meu marido! Chego a ter ciúmes da política,
                  acredite!


                         Ele sorriu.

                         – Foi pena que não tivesse ouvido Sinhá desde o princípio... ela toca com
                  muito sentimento... anime-a... diga-lhe, embora mentindo... que a apreciou... as suas
                  palavras são o melhor incentivo para ela...

                         A Pedrosa procurou a filha com a vista, para aproximá-la de Argemiro, mas já
                  a moça desaparecera da sala.
                         Argemiro percebeu-lhe a contrariedade no olhar e apressou-se em dizer meia
                  dúzia de banalidades, à espera do momento de se despedir. Mas a Pedrosa tinha
                  que dividir a sua atenção. Estava com a casa cheia, e as moças mostravam desejos
                  de dançar...
                         Por fortuna, as sobrinhas, as três filhas do Dr. Adão, ajudavam-na a armar as
                  quadras para os lanceiros, tirando pares e influindo os moços, que se deixavam
                  arrastar, por complacência, para o meio da casa...
                         Como tardasse o pianista, foi mesmo a Pedrosa para o piano, rompendo com
                  força os primeiros compassos da quadrilha. Argemiro aproveitou aquele instante de


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