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frigidíssima. O coronel olhava o comendador que tinha as faces em brasa; este, àquele;
                  por fim depois de alguns segundos o coronel querendo dar uma saída à situação, simulou
                  rir-se e perguntou:

                        - Você nunca mais soube alguma cousa... qualquer cousa ? Hein ?

                        - Nada... Que me 1embre, nada... Ah ! Espere... Foi... É. Sim! Seis meses antes da
                  morte  de  minha  mãe, ouvi dizer  em  casa,  não  sei por  quem,  que  ele estava no  Rio
                  implicado num caso de moeda falsa. É o que me 1embra, disse ela.

                        - O que? Quando foi isso? indagou pressuroso o comendador.

                        A mulata, que ainda não se havia bem apercebido do estado  do  comendador,
                  respondeu  ingenuamente:-  Mamãe  morreu  em  setembro  de  1893,  por  ocasião  da
                  revolta... Ouvi contar essa história em fevereiro. É isso.

                        O comendador não perdera uma sílaba; e, com a boca meio aberta, parecia querê-
                  las engolir uma e uma; com as  faces congestionadas  e  os  olhos  esbugalhados,  a sua
                  fisionomia estava horrível.

                        O coronel e a mulata, extáticos, estuporados, entreolhavam-se.

                        Durante  um  segundo  nada  se  lhes  antolhava  fazer.  Ficaram  como  idiotas;  em
                  breve, porém, o comendador, num supremo esforço, disse com voz sumida:- Meu Deus!
                  É minha filha!
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