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- Eu sou o professor Campos Bandeira. Esse tal advogado, logo que chegou do
Norte, procurou-me, dizendo-se meu sobrinho, filho de uma irmã, a quem não vejo
desde quarenta anos. Pediu-me proteção e eu lhe pedi provas. Nunca mas deu, senão
alusões a coisas domésticas, cuja veracidade não posso verificar. Vão já tantos anos que
me separei dos meus... Sempre que ia receber a minha jubilação, ele me escorava nas
proximidades do quartel-general e me pedia dinheiro. Certa vez, dei-lhe quinhentos mil
réis. Na noite do crime, à noitinha, apareceu-me, em casa, disfarçado em trajes de
trabalhador, ameaçou-me com um punhal, amarrou-me, amordaçou-me. Queria que eu
fizesse testamento em favor dele. Não o fiz; mas escapou de matar-me. O resto é sabido.
O "Casaca" é inocente.
O final não se fez esperar; e, por pouco, o "Casaca" toma a si a causa do seu ex-
patrono.
Quando este saía, entre dois agentes, em direitura à chefatura de polícia, um
velho meirinho disse bem alto:
- E dizer-se que este moço era um "poço de virtudes" !
América Brasileira, Rio, maio 1922.