Page 30 - 3M A ALMA ENCANTADORA DAS RUAS
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Chamo S. Marcos e S. Manços e seu confidente o anjo mau em meu auxílio para se apoderar
do meu espírito e vida, juntamente com a pessoa que desejo fazer o mal, ou bem e com o dedo
polegar da mão esquerda faço três vezes o Sinal da Cruz e com uma faca de ponta espetada na
porta da rua ou mesa, com um lenço ou guardanapo bem alvo direi as seguintes palavras: Cristo
morreu, Cristo sofreu, Cristo padeceu: assim peço-vos meu glorioso São Marcos e São Manços
que sofra e padeça os maiores tormentos e torturas deste mundo a pessoa que eu quero para
mim e pegando na faca com toda a fé e coragem que me dá esta Oração darei quatro golpes na
porta, ou mesa e pela quarta vez chamarei São Marcos e São Manços e o anjo mau, para me
dar força e coragem de dizer: "Credo em Cruz" em círculo onde se acha a faca! Amém."
Oh! o poder da palavra pronunciada misteriosamente! Os homens de todos os países, de todas
as terras têm-lhe um terror sagrado. Essas orações ainda guardam um sentido mais ou menos
claro. A maior parte porém é apenas um estranho jogo de disparates, uma trapalhada alucinante.
Há uma oração contra o sol, que ao lê-la sente a gente a vertigem do desequilíbrio:
Deus quando pelo mundo andou muito sol e calor apanhou, encontrou com Nossa Senhora com
que o sol se tiraria com um guardanapo de olhos e copo d’água fria. Sim, como falo verdade torna
o sol a seu lugar, vai esta senhora pelo mar abaixo com o copinho de água fria, o mal que ela tem
no corpo e na cabeça tire de Deus e da Virgem Maria.
É exatamente a maneira rítmica, o disparate deduzido dos literatos do Hospício e até hoje, se eu
percebi que tais palavras são contra o calor, não me foi possível ainda saber o que quer dizer esta
formidável oração do mar sagrado:
Mar sagrado, eu te venho salvar, a tua água te venho pedir para fortuna por Deus para minha casa
levar; para que me dê ouro para guardar e prata para gastar, cobre para dar aos pobres.
Como exemplo de estilo desvairado há, entretanto, outras quase tão lindas como as poesias
nefelibatas, pela sua dolorosa e obtusa ingenuidade. Está neste caso "O Perdão Eterno."
S. José que caminhava com a Virgem Maria
Tanto caminha de noite como de dia
Abre a porta porteiro
Que aqui está a Virgem Maria
Não quis parir na cama
Nem na cortina.
Pariu na manjedoura
Onde o bento boi comia.
Desceram os anjos dos céus, cantando Ave Maria
Subiu para o céu rezando Santa Maria.
O eterno lhe perguntou, como ficou a parida?
Ficou coberto de ouro o seu bento filho
E o berço em que ele embalava era de ouro e latão
Aqui se acaba esta santa oração.
Quem esta oração rezar 7 sexta-feira, da paixão,
E outras tantas carnais,
Tem cem anos de perdão,
Se for seu pai, sua mãe, mais toda a sua geração.
Há na Ilíada um trecho muito citado e rico de verdades. Homero fala das orações e diz "As
orações são filhas do grande Zeus, filho de Cronos. Capengas, zarolhas, feiarronas ocupam-se