Page 28 - 3M A ALMA ENCANTADORA DAS RUAS
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Algumas, talvez duvidando do poder dos santos no ócio perpétuo do paraíso, vão diretamente a
               Deus, levando-os como simples advogados. Há, por exemplo, a oração de São Elesbão e Santa
               Efigênia reunidas não sei por quê. Pois bem. A oração começa assim:


               Atendei, ó Deus onipotente, às nossas súplicas, e porque nos confessar réus de  muitos pecados,
               permiti que sejamos absolvidos deles pelas intercessões dos gloriosos mártires S. Elesbão e Santa
               Efigênia e que o precioso sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo fiquemos lavado e relavado das
               nossas culpas; limpo e puro mais do que quando nascemos.


               Esta petição é um modelo de lisonjearia, de adulação, de humildade postiça, de engrossamento
               ao velho potentado de todos os tempos, infinitamente multiplicado nesta democrática época de
               potentados! É o supra-sumo do rés-do-chão, é a flor perfeita da maneira de pedir!


               Não são, entretanto, Santa Efigênia e São Elesbão os únicos atirados ao secundário papel de
               advogados, S. Jerônimo, advogado contra os tremores subterrâneos, também o é, tendo como
               compensação um hino.


               Jerônimo santo, máximo penitente,
               Rogai por nós a Deus eficazmente.
               Jerônimo santo, sábio e forte,
               Assiste-nos agora e na hora da morte.


               E S. Simão, que livra do raio, não faz outra coisa senão pedir a Deus que fulmine apenas os pára-
               raios, e Santa Bárbara, coitada, logo que começa a trovejar tem que pedir a Deus menos barulho
               para não ouvir este hino fantástico:


               Salve, virgem gloriosa
               E Bárbara generosa
               Do paraíso fresca rosa
               Lírio de castidade
               Salve ó virgem toda formosa
               Lavada na fonte da castidade.


               Mas as orações são antes de tudo um meio de remediar o mal. Que faz a oração de São Luís
               Gonzaga,  praticada  pelas  meninas  do  Rio  desde  o  tempo  em  que  a  Rua  Teófilo  Otoni  era
               musicalmente  a  Rua  das  Violas?  Remedeia  os  males  de  amor.  Quando  uma  rapariga  cai  de
               joelhos e soluça:


               Ó Luis santo, adorado de angélicos costumes, eu, indigníssima devota vossa, vos recomendo
               singularmente a castidade da minha alma e do meu corpo. Rogo por vossa angélica pureza que
               intercedais por mim ante o cordeiro imaculado Cristo Jesus e sua mãe Santíssima Virgem e que
               me preserveis de todo o passado grave, não permitindo que eu saia manchada com alguma nódoa
               de impureza...


               Podeis ter a certeza, ó mortais, que a tentação anda no coração da donzela de tal forma que S.
               Luís, apesar de angélico e de santo, chegará fatalmente tarde para a salvar. E assim uma velha
               senhora solteira que recitar convictamente a oração de S. Lourenço:
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