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instantes, espalharam-se pelo país e foram do ouvido do povo crédulo ao entendimento
                  do burguês com algumas luzes.

                        Todos  os  que  tinham  "  a  fé  no  coração"  ouviram-nas;  e  todos  queriam  o
                  reaparecimento d'Ele, do pequeno Imperador Dom Henrique, que não fora assassinado.
                  A tensão espiritual chegava ao auge; a miséria batia em todos os pontos, uma epidemia
                  desconhecida de tal forma foi violenta  que,  na  capital  da Bruzundanga,  foi preciso
                  apelar para a caridade dos galés, a fim de enterrar os mortos!...

                        Desaparecida que ela foi, muito tempo, a cidade, os subúrbios, até as estradas
                  rurais cheiravam a defunto...

                        E quase todas recitavam como oração, as profecias do professor Lopes: .

                  Este país da Bruzundanga
                  Parece de Deus deslembrado.
                   Nele, o povo anda na canga
                  Amarelo, pobre, esfaimado.

                  Houve fome, seca e peste
                  Brigas e saques também
                  E agora a água investe
                  Sem cobrir a guerra que vem.

                  No ano que tem dois sete
                  Ele por força voltará
                  E oito ninguém sofrerá.
                  Pois flagelos já são sete
                  E oito ninguém sofrerá.

                        Estes toscos versos eram sabidos de cor por  toda a gente e recitados em uma
                  unção  mística.  O governo tentou desmoralizá-los, por intermédio dos seus jornais, mas
                  não conseguiu. O povo acreditava. Tentou prender Lopes mas recuou, diante da ameaça
                  de uma  sublevação  em  massa  da  província  de Aurilândia. As coisas pareciam querer
                  sossegar, quando se anunciou que, nesta penúria, aparecera o Príncipe Dom Henrique.
                  Em começo, ninguém fez caso; mas o fato tomou vulto. Todos por lá recebiam-no como
                  tal, desde o mais rico até o mais pobre. Um velho servidor do antigo  imperador  jurou
                  reconhecer,  naquele mancebo de trinta anos, o bisneto do seu antigo imperial amo.

                        Os hjanlhianes, com estes e aquele nome, continuavam a suceder-se no governo,
                  espenicando  o saque e a vergonha do país em regra. Tinham, logo que esgotavam as
                  forças  dos  naturais,  apelado  para  a  imigração,  a  fim  de  evitar  velhaduras  nos  seus
                  latifúndios.  Vieram  homens  mais  robustos  e  mais  cheios  de  ousadia,  sem  mesmo
                  dependência  sentimental  com  os  dominadores,  pois  não  se  deixavam  explorar
                  facilmente,  como  os  naturais.  Revoltavam-se  continuadamente;  e  os  hjanlhianes,
                  esquecidos  do  mal  que tinham dito dos seus patrícios pobres, deram em animar estes
                  e a tanger o chocalho da pátria e do Patriotismo. Mas, era tarde ! Quando se soube que
                  a Bruzundanga tinha declarado guerra ao Império dos Oges para que muitos hjanlhianes
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