Page 41 -
P. 41

Estava só, os filhos ainda não tinham vindo do colégio. Cazu entrou.

                        Após entregar as estampilhas, quis o rapaz retirar-se; mas foi obstado por
                        Ermelinda nestes termos:

                        - Espere um pouco, "Seu" Cazu. Vamos tomar café.

                        Ele aceitou e, embora, ambos  se serviram da infusão da "preciosa rubiácea" ,
                  como se diz no estilo "valorização".

                        A  viúva,  tomando  café,  acompanhado  com  pão  e  manteiga,  pôs-se  a  olhar  o
                  companheiro com certo interesse. Ele notou e fez-se amável e galante, demorando em
                  esvaziar a  xícara.  A  viuvinha  sorria interiormente de contentamento. Cazu pensou com
                  os seus botões: "Está aí um bom partido: casa própria, montepio, renda das costuras; e
                  além de tudo, há de lavar-me e consertar a roupa. Se calhou, fico livre das censuras da
                  tia..."

                        Essa vaga tenção ganhou mais corpo, quando a viúva, olhando-lhe a camisa,
                        perguntou:

                        - "Seu " Cazu, se eu lhe disser uma cousa, o senhor fica zangado?

                        - Ora, qual, Dona Ermelinda?

                        - Bem. A sua camisa está rasgada no peito. O senhor traz " ela" amanhã, que eu
                          conserto "ela".

                        Cazu respondeu que era preciso lavá-la primeiro; mas a viúva prontificou-se em
                  fazer isso também. O player dos pontapés, fingindo relutância no começo, aceitou afinal;
                  e  doido  por  isso  estava  ele,  pois  era  uma " entrada"  , para obter uma lavadeira em
                  condições favoráveis.

                        Dito e feito: daí em diante, com jeito e manha, ele conseguiu que a viúva  se
                  fizesse a  sua lavadeira bem em conta.

                        Cazu,  após  tal  conquista,  redobrou  de  atividade  no  football,  abandonou  os
                  biscates e não  dava um passo, para obter emprego. Que é que ele queria mais? Tinha
                  tudo...

                        Na redondeza, passavam como noivos; mas não eram, nem mesmo namorados
                        declarados.

                        Havia  entre  ambos,  unicamente  um  "  namoro  de  caboclo",  com  o  que  Cazu
                  ganhou  uma      lavadeira,  sem  nenhuma  exigência  monetária  e  cultivava-o
                  carinhosamente.

                        Um belo  dia, após ano e  pouco de tal namoro,  houve  um  casamento na  casa
                  dos  tios  do  diligente jogador de football. Ele, à vista da cerimônia e da  festa, pensou:
                  "Porque também eu não me caso? Porque eu não peço Ermelinda em casamento? Ela
   36   37   38   39   40   41   42   43   44   45   46