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Quase ela deu o "sim"; mas...

                        JOÃO CAZU era um moço suburbano, forte e saudável, mas pouco ativo e amigo
                do trabalho.

                        Vivia em casa dos tios, numa estação de subúrbios, onde tinha  moradia, comida,
                  roupa, calçado e algum dinheiro que a  sua bondosa tia e  madrinha lhe  dava para os
                  cigarros.

                        Ele, porém, não os comprava; "filava-os" dos outros. "Refundia" os níqueis que lhe
                  dava a tia, para flores a dar às namoradas e comprar bilhetes de tômbolas, nos vários
                  "mafuás", mais ou menos eclesiásticos, que há por aquelas redondezas.

                        O conhecimento do seu hábito de "filar" cigarros aos camaradas e amigos, estava
                  tão espalhado  que, mal um deles o via, logo tirava da algibeira um cigarro; e, antes de
                  saudá-lo, dizia:

                        -Toma lá o cigarro, Cazu.

                        Vivia  assim  muito  bem,  sem  ambições  nem  tenções.  A  maior  parte  do  dia,
                  especialmente  a  tarde,  empregava  ele,  com  outros  companheiros,  em  dar  loucos
                  pontapés, numa bola, tendo por arena um terreno baldio das vizinhanças da residência
                  dele ou melhor: dos seus tios e padrinhos.

                        Contudo,  ainda  não  estava  satisfeito.  Restava-lhe  a  grave  preocupação  de
                  encontrar quem lhe lavasse e engomasse a roupa, remendasse as calças e outras peças
                  do vestuário, cerzisse as meias, etc., etc.

                        Em resumo: ele queria uma mulher, uma esposa, adaptável ao seu jeito
                        descansado.

                        Tinha  visto  falar  em  sujeitos  que  se  casam  com  moças  ricas  e  não  precisam
                  trabalhar;  em  outros  que  esposam  professoras  e  adquirem  a  meritória  profissão  de
                  "maridos da professora"; ele, porém, não aspirava a tanto.


                        Apesar disso, não desanimou de descobrir uma mulher que lhe servis
                        convenientemente.

                        Continuou a jogar displicentemente, o seu football vagabundo e a viver cheio de
                  segurança e abundância com os seus tios e padrinhos.

                        Certo  dia,  passando  pela  porteira  da  casa  de  uma  sua  vizinha  mais  ou  menos
                        conhecida,  ela  lhe
                  pediu:

                        - "Seu" Cazu, o senhor vai até à estação?

                        - Vou, Dona Ermelinda.
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