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sentenciou Campossolo. O jantar foi. acabando triste, com essa história de
promoções para o Natal.
Dona Sebastiana quis ainda animar a conversa, dirigindo-se ao marido:
- Não queria que me dissesses os nomes, mas pode acontecer que seja o
promovido o doutor Fortunato ou... O "Seu" Simplício, e eu estaria prevenida para a
uma "festinha".
Foi pior. A tristeza tornou-se mais densa e quase calados tomaram café.
Levantaram-se todos com o semblante anuviado, exceto a boa Mariazinha, que
procurava dar corda à conversa. Na sala de visitas, Simplício ainda pôde olhar mais duas
vezes furtivamente os olhos topazinos de Mariazinha, que tinha um sossegado sorriso a
banhar-lhe a face toda; e se foi. O colega Fortunato ficou, mas tudo estava tão morno e
triste que, em breve, se foi também Guaicuru.
No bonde, Simplício pensava unicamente em duas cousas: no Natal próximo e no
"Direito" de Guaicuru. Quando pensava nesta .' perguntava de si para si: "Quem lhe
ensinou aquilo tudo? Guaicuru é absolutamente ignorante" Quando pensava naquilo,
implorava: "Ah! Se Nosso Senhor Jesus Cristo quisesse..."
Vieram afinal as promoções. Simplício foi promovido porque era muito mais
antigo na classe que Guaicuru. O Ministro não atendera a pistolões nem a títulos de
Goiás.
Ninguém foi preterido; mas Guaicuru que tinha em gestação a obra de um outro,
ficou furioso sem nada dizer.
Dona Sebastiana deu uma consoada à moda do Norte. Na hora da ceia, Guaicuru,
como de hábito, ia sentar-se ao lado de Mariazinha, quando Dona Sebastiana, com pince-
nez e cabeça, tudo muito bem erguido, chamou-o:
- Sente-se aqui a meu lado, doutor, aí vai sentar-se o "Seu" Simplício.
Casaram-se dentro de um ano; e, até hoje, depois de um lustro de
casados ainda teimam. Ele diz:
- Foi Nosso Senhor Jesus Cristo que nos casou.
Ela obtempera:
- Foi a promoção.
Fosse uma cousa ou outra, ou ambas, o certo é que se casaram. É um fato.
A obra de Guaicuru, porém, é que até hoje não saiu...