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- Podia me fazer um favor?
- Pois não.
- É ver se o "Seu" Gustavo da padaria "Rosa de Ouro", me pode ceder duas
estampilhas de seiscentos
réis. Tenho que fazer um requerimento ao Tesouro, sobre coisas do meu montepio,
com urgência, precisava muito.
- Não há dúvida, minha senhora.
Cazu, dizendo isto, pensava de si para si: ,'É um bom partido. Tem montepio, é
viúva; o diabo são os filhos!" Dona Ermelinda, à vista da resposta dele, disse:
- Está aqui o dinheiro.
Conquanto dissesse várias vezes que não precisava daquilo - o dinheiro - o
impenitente jogador de
football e feliz hóspede dos tios, foi embolsando os nicolaus, por causa das dúvidas.
Fez o que tinha a fazer na estação, adquiriu as estampilhas e voltou para
entregá-las à viúva.
De fato, Dona Ermelinda era viúva de um contínuo ou cousa parecida de uma
repartição pública.
Viúva e com pouco mais de trinta anos, nada se falava da sua reputação.
Tinha uma filha e um filho que educava com grande desvelo e muito sacrifício.
Era proprietária do pequeno chalet onde morava, em cujo quintal havia laranjeiras
e algumas outras árvores frutíferas.
Fora o seu falecido marido que o adquirira com o produto de uma "sorte" na
loteria; e, se ela, com a morte do esposo, o salvara das garras de escrivães, escreventes,
meirinhos, solicitadores e advogados "mambembes", devia-o à precaução do marido que
comprara a casa, em nome dela.
Assim mesmo, tinha sido preciso a intervenção do seu compadre, o Capitão
Hermenegildo, a fim de remover os obstáculos que certos " águias" começavam a pôr,
para impedir que ela entrasse em plena posse do imóvel e abocanhar-lhe afinal o seu
chalézito humilde.
De volta, Cazu bateu à porta da viúva que trabalhava no interior, com cujo
rendimento ela conseguia aumentar de muito o módico, senão irrisório montepio, de
modo a conseguir fazer face às despesas mensais com ela e os filhos.
Percebendo a pobre viúva que era o Cazu, sem se levantar da máquina, gritou:
- Entre, "Seu" Cazu.