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ter saído em planta, em animal e, se fosse possível, em mineral qualquer. É inútil, vadio,
                  mau e pedante, ou antes, pernóstico.

                        Instalado no Rio, com fumaças de estudante, sonhou logo arranjar um casamento,
                  não  para  conseguir  uma  mulher,  mas,  para  arranjar  um  sogro  influente,  que  o
                  empregasse  em  qualquer  cousa,  solidamente.  Quem  como  ele  faz  de  sua  vida,  tão-
                  somente  caminho  para  o  cemitério,  não  quer  muito:  um  lugar  em  uma  secretaria
                  qualquer  serve.  Há  os que  vêem  mais alto  e  se  servem do  mesmo  meio;  mas  são  a
                  quintessência da espécie.

                        Na Secretaria dos Cultos, o seu típico e célebre " auxiliar de gabinete", arranjou o
                  sogro dos seus sonhos, num antigo professor do seminário, pessoa muito relacionada
                  com padres, frades, sacristães, irmãs de caridade, doutores  em cânones,  definidores,
                  fabriqueiros, fornecedores e mais pessoal eclesiástico.

                        O sogro ideal, o antigo professor, ensinava no seminário uma física muito própria
                  aos fins do estabelecimento,  mas  que  havia  de  horripilar  o  mais  medíocre  aluno  de
                  qualquer estabelecimento leigo.

                        Tinha ele uma filha a casar e o "auxiliar de gabinete", logo viu no seu casamento
                  com ela, o mais fácil caminho para arranjar uma barrigazinha estufadinha e uma bengala
                  com castão de ouro.

                        Houve exame na Secretaria dos Cultos, e o "sogro", sem escrúpulo algum, fez-se
                  nomear examinador do concurso para o provimento do lugar e meter nele "o noivo".

                        Que se havia de fazer? O rapaz precisava.

                        O rapaz foi posto em primeiro lugar, nomeado e o velho sogro (já o era de fato)
                  arranjou-lhe o lugar de  "auxiliar  de  gabinete"  do  ministro.  Nunca  mais  saiu  dele  e,
                  certa vez, quando foi, pro for .. mula se despedir do novo ministro, chegou a levantar
                  o reposteiro para sair; mas, nisto, o ministro bateu na testa e gritou:

                        - Quem é aí o doutor Mata-Borrão?

                        O homenzinho voltou-se e respondeu, com algum tremor na voz e esperança nos
                        olhos:

                        - Sou eu, excelência.

                        - O senhor fica. O seu "sogro" já me disse que o senhor precisa muito.

                        É ele assim, no gabinete, entre os poderosos; mas, quando fala a seus iguais, é de
                  uma prosápia de Napoleão, de quem se não conhecesse a Josefina.

                        A todos em que ele vê um concorrente,  traiçoeiramente  desacredita: é bêbedo,
                  joga, abandona a mulher, não sabe escrever "comissão", etc. Adquiriu títulos literários,
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