Page 70 -
P. 70
- Que alferes?
- O alferes que vinha com a tua diva, filho? Já te esqueceste ?
- Ah! Sim! Esse saltou na lancha do Ministério da Guerra e nunca mais o vi.
- Está direito. Continua lá a cousa.
- E... e... Onde é que estava? Hein?
- Ficaste: quando ao saltar, foram para a pensão.
- É isto ! Fomos para a Pensão Baldut, no Catete; e foi, pois, assim que me
apossei de um lindo primor - uma maravilha, filho, que tem feito os meus encantos
nestes quinze dias - com os raros intervalos em que me aborreço em casa, ou na loja, já
se vê bem.
Repousou um pouco e, retomando logo após a palavra, assim foi dizendo:
- É uma cousa extraordinária! Uma maravilha! Nunca vi mulata igual. Como esta,
filho, nem a que conheci em Pernambuco há uns vinte e sete anos! Qual! Nem de
longe !. Calcula que ela é alta, esguia, de bom corpo; cabelos negros corridos, bem
corridos: olhos pardos. É bem fornida de carnes, roliça; nariz não muito afilado, mas
bom! E que boca, Chico! Uma boca breve, pequena, com uns lábios roxos, bem
quentes... Só vendo mesmo! Só! Não se descreve.
O comendador falara com um ardor desusado nele; acalorara-se e se
entusiasmara deveras, a ponto de haver na sua fisionomia estranhas mutações. Por todo
ele havia aspecto de um suíno, cheio de lascívia, inebriado de gozo. Os olhos
arredondaram-se e diminuíram; os lábios se haviam apertado fortemente e impelidos
pra diante se juntavam ao jeito de um focinho; o rosto destilava gordura; e, ajudado isto
pelo seu físico, tudo nele era de um colossal suíno.
- O que pretendes fazer dela? Dize lá.
- É boa... Que pergunta ! Prová-la, enfeitá-la, enfeitá-la e "lançá-la" E é pouco?
- Não! Acho até que te excedes. Vê lá, tu!
- Hein? Oh! Não! Tenho gasto pouco. Um conto e pouco... Uma miséria!
Acendeu o charuto e disse subitamente, ao olhar o relógio:
- Vou buscá-la de carro, porquanto vamos ao cassino, e tu me esperas lá, pois
tenho um camarote.