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Ao acabar a  segunda semana dessa ausência  imprevista, o coronel, maçado e
                  saudoso, foi procurar o amigo na sua loja à Rua dos Pescadores. Lá o encontrou amável
                  e de boa saúde. Explicaram-se; e  entre eles ficou assentado que se veriam naquele dia,
                  à tarde, na hora e lugar habituais.

                        Como sempre, jantaram fartamente e regiamente regaram o repasto com bons
                  vinhos portugueses. Jogaram a partida de bilhar e depois, como encarrilhados, seguiram
                  para o café de costume  no  Largo da Carioca.

                        No princípio, conversaram sobre a questão das minas de Itaoca, vindo então à
                  baila a inépcia e a desonestidade do governo; mas logo depois, o Coronel que "tinha a
                  pulga atrás da orelha", indagou do companheiro o motivo de tão longa ausência.

                        - Oh! Não te conto! Foi um "achado", a cousa, disse o comendador, depois de
                  chupar  fortemente  o  charuto  e  soltar  uma  volumosa  baforada;  um  petisco  que
                  encontrei... Uma mulata deliciosa, Chico ! Só vendo o que é, disse a rematar, estalando
                  os beiços.

                        - Como foi isso? inquiriu o coronel pressuroso. Como foi? Conta lá!

                        - Assim.  A Ultima vez que estivemos juntos, não te disse que no dia seguinte iria
                  a bordo de um paquete buscar um amigo que chegava do Norte?

                        - Disseste-me. E daí?

                        - Ouve. Espera. Cos diabos isto não vai a matar! Pois bem, fui a bordo. O amigo
                  não veio... Não era bem meu amigo... Relações comerciais... Em troca...

                        Por  essa  ocasião  rolou  um  carro  no  calçamento.  Travou  em  frente  ao  café  e
                  por ele adentro entrou uma gorda mulher, cheia de plumas e sedas, e para vê-la virou-
                  se o comendador, que estava de costas, interrompendo a narração. Olhou-a e continuou
                  depois:

                        - Como  te  dizia:  não  veio  o  homem,  mas  enquanto  tomava  cerveja  com  o
                  comissário, vi atravessar a sala uma esplêndida mulata; e tu sabes que eu...

                        Deixou de fumar e com olhares canalhas sublinhou a frase magnificamente.

                        - De  indagação em indagação, soube que  viera com um alferes do Exército; e
                  murmuravam  a  bordo  que  a  Alice  (era  seu  nome,  soube  também)  aproveitara  a
                  companhia,  somente  para  melhor  mercar  aqui  os  seus  encantos.  Fazer  a  vida...
                  Propositalmente, me pareceu, eu me achava ali e não perdia vaza, como tu vais ver.

                        Dizendo isto, endireitou o corpo, alçou um tanto a cabeça, e seguiu narrando:

                        - Saltamos  juntos,  pois  viemos  juntos  na  mesma  lancha  -  a  que  eu  alugara.
                  Compreendes? E, quando embarcamos num carro, no Largo do Paço, para a pensão, já
                  éramos conhecimentos velhos; assim pois...

                        - E o alferes?
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