Page 5 - 5F A ILHA DO TESOURO
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Nos tardes chuvosas, segurando uma grande garrafa de
rum, contava horríveis histórias de naufrágios, enforcamen-
tos e torturas. Eu, minha mãe, meu pai e uns poucos fre-
gueses o escutávamos apavorados.
Não tardou a tornar-se insuportável. Bebia, embriagava-se
e obrigava-nos a escutá-lo e aplaudi-lo. Só urna vez teve
de calar-se, diante do atitude do Dr. Livesey, nosso amigo,
que resistiu impassível a uma ameaço de agressão por parte
do terrível Capitão.
Pouco tempo depois desta cena com, o médico, aconte-
ceu-me outra coisa estranha. Em certa manhã de janeiro
me vi diante de um homem sem dois dedos da mão es-
querda e com um facão no cinto, que me mandou trazer-
lhe. rum e começou a fazer-me perguntas a respeito de
certo Bill, um marinheiro seu amigo.
As minhas respostas vagos, todas monossilábicas, retru-
cou que seu amigo Bill devia ser o próprio Capitão e, pe-
gando-me de repente por um braço, perguntou-me onde
estava ele nesse momento e a que hora voltaria.
Ficamos a esperá-lo, ele e eu, na sala do estalagem duran-
te cerca de meia hora.
Afinal o Capitão regressou e, quando ouviu aquela estranha
personagem chamá-lo pelo nome, exclamou furiosamen-
te: Cão Negro! Os dois homens trocaram algumas pala-
vras em voz alta e mandaram-me embora.
Deixei-os sós, mas pouco depois ouvi um barulho de mó-
veis caindo, um tinir de lâminas metálicas, um grito de dor,
e vi o 0 Negro fugindo corno um doido, seguido do Capi-
tão. Junto da porta, este desferiu um terrível golpe de fa-
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