Page 127 - 2M A INTRUSA
P. 127

www.nead.unama.br




                         – Tem razão. O seu lugar não é aqui, agora que a vi e a conheço. Só lhe peço
                  uma coisa: que me consinta ir amanhã à sua casa, em companhia de minha filha...
                  pedir-lhe perdão...


                         Alice esboçou um gesto de protesto. Receava chorar se falasse.
                         Ele aproximou-se e ficaram ambos calados, adivinhando-se através do
                  silêncio, até que Maria da Glória gritou da porta:

                         – D. Alice! o Feliciano já levou a sua mala!

                         Dois meses depois, numa linda manhã, os barões assistiram ao casamento
                  de Argemiro e de Alice, feito por Assunção, testemunhado por Adolfo Caldas, Teles
                  e D. Sofia.
                         A cerimônia foi simples e sem lágrimas. A baronesa conteve-se. Muito pálida,
                  dentre as sedas negras do vestido, ela adquirira pelo esforço enérgico da vontade
                  uma rigidez de estátua. Nem um músculo das faces lhe tremia. Com as mãos
                  pousadas nos ombros da neta, ela parecia olhar para tudo como do alto de uma
                  torre, imperturbavelmente.
                         À tarde Assunção foi visitá-la. Tinham voltado à chácara do subúrbio. Glória
                  correu a recebê-lo no portão. Estava decidido que ela viveria ali uns meses, para
                  consolar a avó. Achava agora tudo tão bonito! O avô lá andava no horto, verificando
                  o estado das suas plantas, alegre como um patinho na água! Ela estava por ali à
                  cata de mangas maduras...
                         Assunção acariciou-lhe a cabeça e entrou sozinho na saleta da baronesa. Ela
                  ali estava no seu cantinho costumado, febril, com o corpo alquebrado, descaído, os
                  olhos avermelhados entre as pálpebras empapuçadas. Vendo-o, chamou-o a si; e
                  segurando-lhe as mãos, numa queixa soluçada:

                         – Minha filha tornou a morrer hoje, Assunção; agora está só comigo e eu vou
                  perdendo as forças para chorar...
                         – Não a chorará sozinha... – murmurou ele quase em segredo, corando.


                         Ela voltou-se, e contemplou-o num misto de esperança e de assombro.

                         – Você?...


                         Ele olhou silenciosamente para a batina, como para explicar tudo.
                         Transfigurada, num movimento inconsciente, alegre, ela apertou-o nos braços
                  e exclamou:


                         – Meu filho!








                                                             Fim






                                                                                                         126
   122   123   124   125   126   127   128   129