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- Não, sou de Canavieiras.
- Como? fez ele. Fale um pouco alto, que sou surdo, - Sou de Canavieiras, na
Bahia, insisti eu. - Onde fez os seus estudos?
- Em São Salvador.
- Em onde aprendeu o javanês? indagou ele, com aquela teimosia peculiar aos
velhos.
Não contava com essa pergunta, mas imediatamente arquitetei uma mentira.
Contei-lhe que meu pai era javanês. Tripulante de um navio mercante, viera ter à Bahia,
estabelecera-se nas proximidades de Canavieiras como pescador, casara, prosperara e
fora com ele que aprendi javanês.
- E ele acreditou? E o físico? perguntou meu amigo, que até então me ouvira
calado.
- Não sou, objetei, lá muito diferente de um javanês. Estes meus cabelos corridos,
duros e grossos e a minha pele basané podem dar-me muito bem o aspecto de um
mestiço de malaio...Tu sabes bem que, entre nós, há de tudo: índios, malaios, taitianos,
malgaches, guanches, até godos. É uma comparsaria de raças e tipos de fazer inveja
ao mundo inteiro.
- Bem, fez o meu amigo, continua.
- O velho, emendei eu, ouviu-me atentamente, considerou demoradamente o
meu físico, pareceu que me julgava de fato filho de malaio e perguntou-me com doçura:
- Então está disposto a ensinar-me javanês?
- A resposta saiu-me sem querer: - Pois não.
- O senhor há de ficar admirado, aduziu o Barão de Jacuecanga, que eu, nesta
idade, ainda queira aprender qualquer coisa, mas...
- Não tenho que admirar. Têm-se visto exemplos e exemplos muito fecundos... ?
.
- O que eu quero, meu caro senhor....
- Castelo, adiantei eu.
- O que eu quero, meu caro Senhor Castelo, é cumprir um juramento de família.
Não sei se o senhor sabe que eu sou neto do Conselheiro Albernaz, aquele que
acompanhou Pedro I, quando abdicou. Voltando de Londres, trouxe para aqui um livro
em língua esquisita, a que tinha grande estimação. Fora um hindu ou siamês que lho