Page 21 - 5F A ILHA DO TESOURO
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Uma vez só, comecei a planejar a minha segunda fuga.
Enchi os bolsos de biscoitos, apoderei-me de um par de
pistolas e, galgando a paliçada, dirigi-me para uma rocha
branca onde sabia que Ben Gunn tinha escondido o seu
tosco bote.
Ocultei-me à espera de que chegasse a noite e lancei-me à
minha provisão de víveres. Por fim, quando a última clari-
dade do dia desapareceu, arrastei para o mar o bote e
comecei a remar.
Impelido pela maré, encontrei-me subitamente diante do
navio e num instante as minhas mãos tocaram a amarra,
retesado como a corda de um arco. Veio-me então uma
idéia luminosa: se cortasse a amarra, a Espanhola ficaria
à mercê das ondas. Assim fiz. Enquanto com a faca corta-
va um a um os fios do cabo, ouvi um som confuso de
vozes que vinham do camarote.
Cheio de curiosidade, esperei que o navio virasse de bordo,
segurei-me a uma corda que pendia do castelo do popa e
logo após vi o contramestre Israel Hands e um marinheiro
irlandês lutando ferozmente, agarrados à gola um do ou-
tro. Horrorizado, deixei-me escorregar pelo amarra e vol-
tei, agitadíssimo, a deitar-me no fundo da minha frágil em-
barcação. Adormeci.
Quando acordei, já era dia. Percebi que navegava na extre-
midade sudoeste da ilha do tesouro. Permaneci no fundo
do bote e não empunhei os remos: a velocíssima corrente
me forçou a dar uma grande volta em torno da ilha e de-
pois me levou para junto da Espanhola, que me pareceu
irremediavelmente entregue a si mesma e ao sabor dos
ondas. Abandonando o meu bote, subi para a goleta.
Na excitação das últimos manobras, eu havia-me esqueci-
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