Page 141 - 3M A ALMA ENCANTADORA DAS RUAS
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O amor da mulher é cachaça
Que se bebe por frio e calor
O amor da mulher é chalaça
E’ cantiga de mau trovador.
até o ideal:
Poesia, era esse o nome
Dessa mulher ideal
E amando-a sem ser poeta
Fui louco, pequei, fiz mal.
O amor proteiforme, o eterno amor feito de soluços e risos, que Tennyson dizia senhor da vida e
senhor da morte.
Há nessas modinhas e nessas cançonetas, de par com a paixão, a tristeza e a troça, um milhão
de erros de gramática e de metrificação. O verso é quase ignorado pelo trovadores ocasionais.
Mas que lhes importa isso, se não se importam com a honra, o bem-estar, a glória? Os poetas não
têm versos, têm cavaquinhos, violões e a voz para dobrar e quebrar os nossos nervos. Ao povo
basta a cadência, o som sugestionador que chega a atrair os crocodilos. Uma história sem sentido
como esta
Bolim bolacho, bole em cima,
Bolim bolacho por causa do bole embaixo
Quem não come da castanha caruru
Não percebe do caju
Quem não come do caju
Não percebe do fubá
entusiasma fatalmente os auditórios. Eles, os trovadores, tenham ou não alegria, acham que
tudo tem compensação até na morte:
Vai o pobre para a cova
E o rico para a carneira
Mas ao fim de cinco anos
Ao abrir a salgadeira
Quer do pobre, quer do rico
Há só ossos e caveira.
A despreocupação dessa gente parece viver com uma estranha verdade no lundu popular:
Eu vivo triste como sapo na lagoa
Cantando triste, escondido pelas matas.
Para ver se endireito a minha vida
Vou deixar das malditas serenatas.
O meu nome na Gazeta de Notícias
Ainda hoje eu vi bem declarado:
Ontem, à noite foi preso um vagabundo...