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energia não me sobrava.

                        Pensei então no Diabo. Se ele quisesse comprar-me a alma?
                  Havia tanta história popular que contava pactos com ele que eu, homem céptico e
                  ultramoderno apelei para o Diabo, e sinceramente!

                        Nisto bateram-me a porta. - Abri.

                        - Quem era ?

                        - O Diabo.

                        - Como o conheceste ?

                        - Espera. Era um cavalheiro como qualquer, sem barbichas, sem chavelhos, sem
                  nenhum atributo diabólico. Entrou como um velho conhecimento e tive a impressão de
                  que conhecia muito o visitante. Sem cerimônia sentou-se e foi perguntando: "Que diabo
                  de spleen é esse?" Retorqui: " A palavra vai bem mas falta-me o milhão." Disse-lhe isso
                  sem reflexão e ele  sem  se espantar,  deu umas voltas pela  minha  sala e olhou um
                  retrato.  Indagou:  "E  tua  noiva?"  Acudi:  "Não.  É  um  retrato  que  encontrei  na  rua.
                  Simpatizei e..." "Queres vê-la já?" perguntou-me o homem. "Quero" , respondi. E logo,
                  entre nós dois sentou-se a mulher do retrato. Estivemos conversando e adquiri certeza
                  de que estava falando com o Diabo. A mulher foi-se e logo o Diabo inquiriu: "Que querias
                  de mim?" "Vender-te minha alma", disse-lhe eu.

                        E o diálogo continuou assim :

                        Diabo - Quanto queres por ela?


                        Eu - Quinhentos contos.


                        Diabo - Não queres pouco. Eu - Achas caro?


                        Diabo - Certamente.

                        Eu - Aceito mesmo a cousa por trezentos.


                        Diabo - Ora ! Ora !


                        Eu - Então, quanto dás?

                         Diabo - Filho. não te faço preço. Hoje, recebo tanta alma de graça que não me
                vale a pena comprá-   las

                        Eu - Então não dás nada?

                        Diabo - Homem! Para falar-te com franqueza. simpatizo muito contigo, por isso

                        vou dar-te alguma cousa.
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