Page 362 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
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cima da pele. Mandei ela voltar para a cama, mas ela não quis. Até que enfim

               consegui  parar  de  chorar.  Mas  custou  um  bocado.  Aí  acabei  de  abotoar  o
               sobretudo e prometi a ela que ia telefonar. Respondeu que, se eu quisesse, podia
               dormir  com  ela,  mas  eu  disse  que  não,  que  era  melhor  dar  no  pé,  porque  o
               Professor  Antolini  estava  me  esperando  e  tudo.  Aí  tirei  o  chapéu  de  caça  do
               bolso e dei para ela. Ela gosta desses chapéus malucos. Só a muito custo aceitou.
               Sou capaz de apostar que dormiu com ele na cabeça. Ela gosta muito mesmo

               desse tipo de chapéu. Aí eu disse de novo que ligava para ela, se desse jeito, e
               saí.










                      Não sei porque, mas foi muito mais fácil sair de casa do que entrar. Uma
               das razões é que eu já estava pouco ligando de ser apanhado ou não. No duro,
               mesmo. Se pegassem, pegavam e pronto. De certa maneira, quase desejei que me
               apanhassem.










                      Desci a vida toda pela escada, em vez de tomar o elevador. Fui pela escada
               dos fundos. Por pouco não quebrei o pescoço nuns dez milhões de latas de lixo,
               mas  saí  direitinho.  O  cabineiro  nem  me  viu.  Provavelmente,  até agora  ainda

               continua pensando que eu estou no apartamento dos Dicksteins.
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