Page 249 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
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mesmo de doido que eu sou, quando estávamos saindo dum apertão daqueles, eu
disse a ela que estava apaixonado e tudo. Claro que era mentira, mas o caso é
que eu estava sendo sincero na hora que falei. Sou louco mesmo. Juro que sou.
- Meu querido, também gosto muito de você - ela disse. E aí engrenou uma
segunda: - Me promete que vai deixar teu cabelo crescer. Esse cabelo à
escovinha está ficando fora de moda. E teu cabelo é tão bonito...
Bonito uma ova.
A peça não era tão ruim. Eu já tinha visto piores. Mas era meio morrinha.
Era a estória de uns quinhentos mil anos na vida de um casal velho. Começa
quando os dois são jovens e os pais da moça são contra o casamento, mas ela
acaba mesmo casando com o cara. E aí eles vão envelhecendo. O marido vai
para a guerra e a mulher tem um irmão que é porrista. Não consegui me
interessar muito. Quer dizer, não dei muita bola quando morria alguém na
família ou coisa que o valha. Eles eram apenas um bando de atores. O marido e a
mulher até que formavam um casal simpático - os dois eram muito espirituosos e
tudo - mas não consegui me interessar muito por eles. Em parte porque ficaram a
peça inteirinha tomando chá ou coisa parecida. Toda vez que apareciam, lá vinha
um mordomo empurrando um carrinho de chá para eles, ou então a mulher
estava servindo chá a alguém. E todo o mundo estava sempre entrando ou
saindo o tempo todo. A gente ficava tonto só de ver o pessoal se sentar e se
levantar. O Alfred Lunt e a Lynn Fontanne faziam o papel do casal velho e
trabalhavam muito bem, mas não gostei muito deles. Que eles eram diferentes,